Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



sábado, 23 de abril de 2016

(...) Com o passar do tempo e eu nem sei explicar o motivo exato que me levou a isto, ou mesmo, os motivos; com o passar dos anos, e o Sol castigando minhas ideias neste deserto cruel - mas, florido -, esturricando minhas vísceras, meus pulmões já traumatizados; com o passar do tempo cegando meus olhos, eu acreditei que ele viria rei, rei calçando chinelas - sim, chinelas, daquelas que fazem barulho no chão plaf-plaf -, dentro de bermudas velhas e camisetas de propaganda. E então, eu passei a enxergar o mundo masculino assim, chinelas plaf-plaf. Nunca mais, nunca mais os ternos, as belas camisas, algum charme. E meus vestidos seriam para sempre a vírgula mal colocada.
Com o passar do tempo, mimetizei-me (...).

(Suzana Guimarães)