Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Se um dia você vier



Raíssa Medeiros

Se um dia você vier, avisa antes. Não fala nada, mas não deixa de olhar em meus olhos se há ainda algum amor. Mesmo que não mais veja o tanto que viu antes, fica. Não faça alarde sobre nada e nem faça segredo. Caminha suave, e não me dá notícias de seus dias. 

Aproxima-se e diz que se perdeu pelo caminho. 

Se um dia você vier, venha manso, falando baixinho, como se cochichasse num casamento em um templo. Diz que se arrependeu de ter me deixado por tanto tempo esperando-o. Diz que sou sua e que você sempre foi meu.

Aproxima-se como se tivéssemos nos visto, ontem. Não se esqueça de prestar atenção em meu olhar, curva-se, se preciso for, só para ver, para constar, para ter frágil certeza.

Se um dia você vier, eu lhe direi toda a minha mágoa, sem pronunciar uma palavra. Direi do meu cansaço e apontarei as portas que nunca mais abri.

Se um dia você vier, procura por mim, que sempre estive ao lado seu.


Por Suzana Guimarães.