Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quinta-feira, 23 de maio de 2013

SOBRE CAMINHOS QUE SE PERCORRE







Cheguei na madrugada antes de você. Pensei que tudo havia sido um sonho, mas, não, foi real. Sentei-me ao seu lado e ouvi tudo o que você me dizia, sem abrir a boca, sem que você precisasse olhar para mim. Vagava silenciosa noite, a mesma que eu via, longe de você, no tempo da descrença. Era tudo simples ideologia ou mesmo mania. Tudo sombra a me dizer coisas insanas, ninguém para me salvar e eu nunca realmente desejei salvação. Morreria daquilo, daquela falta, mesmo que essa morte se multiplicasse, pois vãs foram as tentativas do mundo de doutrinar-me. Agora, não morro mais. 

Cheguei na madrugada antes de você. A vida, velha senhora em roupa de festa, sorriu a nos ver assim tão despidos, tão fáceis, tão banhados e comungados. Não se abre um corpo à força, derrubar muralhas é coisa de almas estranhas.

Assim, de tudo sei, tudo vi, tudo. Rarefeita razão de ser. Tudo efêmero, pequeno, pouco. Agora, meu olhar sobre você. Senta ao meu lado e me diz tudo o que deseja, tudo o que já sei. Diz, para eu ouvir, para eu saber. Ou nada diz, deita-se sobre mim e fala simplesmente que belas são as madrugadas em que nos procurávamos.


Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 17 de maio de 2013

PARA O DIA EM QUE NOS VIMOS

 
 
Fotografia gentilmente cedida por Raíssa Medeiros
 
 
Desfolhar-se é natural, mas há uma gente que parece ter se robotizado, anda por aí gritando que tudo é felicidade e festa... ou finge ou foge, não sei.
 
Sorrisos plastificados, sempre os mesmos, lembram-me o Coringa, inimigo do Batman.
 
Desfolhei-me, mas, passado o tempo, tudo se refez, lentamente, e varridas pelos ventos foram as antigas folhas, engolidas pelo eco que gritava meu nome. As novas, a mim não foi dado o dia de seus nascimentos, exceto uma, aquela que nasceu, ingênua, no dia em que lhe estendi a mão e perguntei "como vai você?".
 
Repara, o eco agora engole nós dois, espera absoluto por nosso silêncio.
 
Haveria de ser festa, foi silêncio de monastério.
Haveria de ser rápido, se fez em mês.
 
Não preciso mais sorrir, falar, insistir, fingir, devorá-lo. O antigo mundo arruinou-se só para esperar por nós.
 
 
 
Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MENTIRA

  
 Você me irrita

diz que não sei fazer poemas

Mas insisto

são pernas curtas

feito mentira






(Suzana Guimarães)