Cheguei na madrugada antes de você. Pensei que tudo havia sido um sonho, mas, não, foi real. Sentei-me ao seu lado e ouvi tudo o que você me dizia, sem abrir a boca, sem que você precisasse olhar para mim. Vagava silenciosa noite, a mesma que eu via, longe de você, no tempo da descrença. Era tudo simples ideologia ou mesmo mania. Tudo sombra a me dizer coisas insanas, ninguém para me salvar e eu nunca realmente desejei salvação. Morreria daquilo, daquela falta, mesmo que essa morte se multiplicasse, pois vãs foram as tentativas do mundo de doutrinar-me. Agora, não morro mais.
Cheguei na madrugada antes de você. A vida, velha senhora em roupa de festa, sorriu a nos ver assim tão despidos, tão fáceis, tão banhados e comungados. Não se abre um corpo à força, derrubar muralhas é coisa de almas estranhas.
Assim, de tudo sei, tudo vi, tudo. Rarefeita razão de ser. Tudo efêmero, pequeno, pouco. Agora, meu olhar sobre você. Senta ao meu lado e me diz tudo o que deseja, tudo o que já sei. Diz, para eu ouvir, para eu saber. Ou nada diz, deita-se sobre mim e fala simplesmente que belas são as madrugadas em que nos procurávamos.
Por Suzana Guimarães