quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
TROCO, SÓ A VIDA DÁ
E, aí, moço, puxa o banquinho, senta e chora.
Tantas teorias, tantas palavras, e eu faço bem mais que você, o dia todo aqui, vendo a paisagem, fumando meu cigarrinho de palha, vendo pessoas por entre as fumaças, que chegam, que vão...
Você estava pesado demais para o teu galho e caiu ou fez onda em cima da onda e o mar o engoliu?
Você não se deitou naquele gramado, verde gramado, céu azul, frio de namorados. Você dispensou o jantar, e, quem sabe, incluso a sobremesa e o licor? Quem sabe... cof...cof...cof... esse cigarro me engasga, ainda me mata.
Não, não rio. Não rio de você. Rio da vida, engraçada, ela, não é? Você não se deitou naquele gramado, mas ela foi lá, sua rainha adorada amada, e se deitou, só que com outro, não é? Hum... posso sentir, posso até ver, deixa eu abanar um pouco a fumaça: era noite, era tarde, pouco importa, uma garrafa de vinho, um cantinho no escuro, ele toca a perna da moça, diz coisas em seu ouvido - pena, não posso ouvir! - ela ri. O garçom entrega um pedaço de papel, eles se levantam e eu já os vejo no quarto. Ele tira com os dentes a alça da blusa, ela murmura o nome dele, hum... perdi. Não vejo mais. Minhas fumaças andam preguiçosas.
E aí, moço? Gostou? Paga a conta, na saída, com a moça da entrada.
Ó, não tem troco, não, viu? Troco, só a vida dá.
Por Suzana Guimarães