Por Suzana Guimarães
domingo, 27 de julho de 2014
Quando dei por mim
Para Franck
Quando dei por mim, já não fazia importância todo o meu gostar por você, simplesmente porque ele era meu, e, assim sendo, eu não dependia mais de si, apenas de mim, para deixá-lo num canto; todo aquele gostar.
Quando dei por mim, aquele imenso amar transformou-se no vazio oco da última chupada no canudo de plástico, quando não há mais suco. Ou houve suco, mas imaginei ser grenadine pura, não líquido insosso.
Quando dei por mim, todos os homens eram os mesmos e mesmos todos os nomes. E eu não mais o distinguia.
Todo aquele gostar era cisma, vontade de mudar o calendário e sua ordem dita e também todas as horas e eu e o mundo, principalmente eu, isso é, vontade de transformar a mim mesma, em qualquer coisa além de ser sempre a mesma, jamais previsível, mas intensamente mutável, porém, bailarina da caixa de música. Sem roteiro, sem programa, sem um caminho, uma trilha.
Quando dei por mim, mal nenhum lhe fiz. Só a mim. Bem ou mal, somente um empurrão, leve toque na figura de rosa, rodopiando naqueles eternos bandolins. Leve empurrão, ela, ao chão.
Quando dei por mim, criei fé extra: a música para, no entanto, o mesmo leve toque pode rodar a manivela vezes infinitas...
Quando dei por mim, percebi que amor é pra morrer, no nascimento ou de velho; mas, a música, não.
Por Suzana Guimarães