Um dos guardas entrelaçou seus dedos nos meus...
Ninguém me defendeu. Ninguém subiu ao púlpito e bradou minha inocência ou mera atenuação de todos os conturbados fatos da vida de uma mulher comum. Na saída da grande plateia, eram vários os homens que me acompanhavam, todos muito próximos de mim, fechando cerco à minha volta, seguravam-me pelos braços e empurravam-me à frente.
Ninguém me defendeu.
E isso se multiplicou cem vezes cem, na mais baixa das planícies, na mais alta das montanhas, na maior cidade do mundo e na mais tosca das vilas. Ninguém tocou um passo à frente no chão, nem um grito monossílabo, nem uma carta bem ou mal redigida, nem um amor para dizer "eternamente seu". Sempre algo, um fato ou alguém entre mim e o outro, sempre um dedo apontado em riste por eu parecer não entender.
Subi ao cadafalso como um barco à deriva... meu pé a um passo do novo, um lago onde eu quase nadei, um precipício onde eu quase mergulhei, quase, quase, quase... um espelho em que eu quase me vi.
Um dos guardas, somente um, entrelaçou seus dedos nos meus.
Por Suzana Guimarães.