Procurei por longo tempo um certo homem que não diria a palavra perfeita, mas faria o gesto esperado por mim. Muitos apareceram e eu me deixei enganar porque eu queria muito. Quando queremos muito, um Puro Sangue Inglês perde de nós na vastidão de um campo sem fim. Mas, o mundo é com fim, os campos também, assim como a ilusão de se estar com a pessoa procurada. Um dia, a gente acorda, cumpre nossos rituais e, no corredor de um supermercado, a gente brinca pedindo "me leva para casa" a um desconhecido.
Sim, leva-me para tua casa, mostra-me teu mundo, diga-me tudo, da palavra certa para o copo, para a xícara, para as melhores comidas, para sabonete, escova de dentes, diga-me um corpo todo - o meu - em Francês. Fala, sussurra, canta, mesmo que eu nada entenda, mesmo com a certeza de que você é mais um passante, deixa-me caminhar no rastro calmo que tua voz me traz.
Se pudesse e eu gostaria tanto, se quisesse, diria-me "ne me quitte pas".
Por Suzana Guimarães