Imagem gentilmente cedida por Daniela Ferreira |
sábado, 20 de julho de 2013
AINDA SEI FAZER POEMA
Eu nunca o amei, e, sim, apenas, o seu amor por mim. Carreguei esse amor como a um troféu. Falei dele para as pessoas e busquei nos momentos de vazio o abrigo da lembrança. Era sagrado e carnal, ondas subiam e desciam pelas minhas pernas, amoleciam meus braços, enfeitiçavam meu espírito. Brilhavam meus olhos. Você nunca foi lindo para mim, foi somente presença a ocupar o espaço à volta, lotado de minhas descrenças. Eu nunca o amei porque sou promessa de um rei e você não é rei. Sou um resgate mal sucedido. Sou um corpo procurado. Você jamais me buscou, jamais cobrou a lembrança e os anos se passaram e eu acostumei-me a enganar-me. Você e todos os demais só souberam dizer-me não.
Sou o não do homem despreparado para o combate do amor. Sou a escrava à venda, a fugitiva, a vendedora de orquídeas, sou uma trilha, a relva, o caminho que o espera. Sou a mulher que você nunca despiu. Sou o martelo no leilão, o momento em que ele desce à mesa, mas sou antes da batida, nunca fui confirmação. Solidão do imperador cansado, que não me encontra e que sabe o quão difícil é promessa não cumprida. Sou a coroa, o manto desperdiçado por não encontrado.
Eu nunca o amei, porém assim o consagrei, rei. Agora, o que me resta fazer? Mudei tanto... já nem uso mais aquele perfume, nem considero o seu nome o mais lindo de todos. Evitarei lembrar-me do galope do cavalo...
Seguirei. Quem não possui reinado, considera qualquer canto, um palácio.
Por Suzana Guimarães