(fotografia, por SCG) |
Faço de tudo para não pensar em você, para ser do lugar, viver o momento, mas meus esforços são puro fracasso. Vejo-a nas vitrines, nas senhoras que passam do outro lado da calçada, nas minhas mãos, na xícara de cafezinho. Vejo você no tempo, no nada, na visão à frente, no espaço à minha frente, o chão, o céu, o vento, o caminho que estou indo caminhar, como se você fosse o rosto enorme do mundo a me olhar.
Eu lhe conto coisas, amarguras, alegrias. Eu rio com você, mas tudo é só solidão, sou apenas uma tonta que não sabe viver.
Tenho medo de lhe perder, mais do que já perdi, no dia em que o silêncio de oratório for a minha única verdade. Tenho medo de desprender-me da razão, do fio, da linha tênue que me separa da total insensatez.
Parece que fiquei feia, sem graça, tirada dos engonços. Os dias correm e eu corro junto com eles, trepidando, feito cristais numa prateleira que vagarosamente despenca.