Era noite pois tudo era escuro, escuros os olhos dele, escuro fundo de fundo de um poço, obscuros desejos, porém, leves... aroma leve, leve, aura envolvente. Impregnada, ela ficou e guardou. Carregou para casa o etéreo, inodoro, impalpável, invisível.
Quase errou a rua, quase perdeu o rumo, quase não voltou para casa. Ah, se ele a chamasse!
Mas ele não chama, ele olha, ele perfuma, ele deixa o odor no corpo dela, sem lhe tocar.
Ah, se ele a tocasse!
Mas ele não toca, ele não foge, ele não corre. Ele olha, permanece. Ele é um cheiro sem cheiro, ele é volúpia, ele se estende pelas ruas, calçadas, entra no carro com ela, atrás dela, ao lado dela, dentro dela. Ela mal respira, economiza ar para carregá-lo por mais um minuto, dois, horas, uma ou três; por madrugada adentro.
por Suzana Guimarães