Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 24 de julho de 2012

SIMPLES ASSIM...



(Fotografia, por Suzana Guimarães)

Eu subiria nas pontas dos pés, para tentar ver o fundo do mar onde naufraga tua alma. E teus olhos doces me contariam histórias tristes e também alegres. Tua boca falaria do poeta que vivia na esquina e hoje nos vigia e teus lábios mostrariam a ele que ainda há poesia, quando você roçasse os teus nos meus, de leve, temerosos, porque você é o menino de debaixo da escada, aquele que conta, conta, mas nunca vai atrás da brincadeira, por medo dos esconderijos dos outros. Eu subiria nas pontas dos pés para alcançar tudo aquilo que você vê, ali do alto, e o faz tão pequeno, tão desencaixado em suas próprias peles. Eu lhe diria sobre a minha cidade, um cantinho escondido no mapa, onde gaivotas sobrevoam menininhos que carregam doces, maritacas alardeiam o nada e corvos provam que são apenas pássaros, nada mais que isso. Eu lhe mostraria meu lugar sagrado, o pier da cidade, onde você pousa os olhos e percebe que ali não há portas. Eu lhe convidaria a escrever nas areias da praia, um haicai urgente, antes que as águas o lambessem. Eu lhe diria que tuas peles lhe incomodam porque você é um dentro de si, outro, fora. Eu subiria nas pontas dos pés para ouvir tuas queixas, e o dourado do Sol jamais ganharia da cor de tua alma espreguiçada quando você enfim se deitasse em meu colo. Você não sabe, mas, tenho poderes mágicos, os de fazer você mais belo, feliz.

Por Suzana Guimarães