Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 26 de setembro de 2017

Rei de Paus

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(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)



Fora, dia quente, vapor, um olhar parado na mulher que surgiu - poderiam ter sido tantas outras...
Dentro, nuvem pesada por sobre os dois, um mundo ainda a se descobrir.
Foi quando ele deu uns quatro passos, passou por suas costas para alcançar o lado esquerdo dela
Exato momento em que uma história passa a ser contada.

Um livro que se abre. 
O tempo entrega as cartas
Na mesa, brilha até hoje o Rei de Paus

Mas nem o tempo quer saber; nem Deus



Suzana Guimarães

sábado, 9 de setembro de 2017

Walt Whitman - poem

(photo by Suzana Guimarães)



"Passing stranger! You do not know how longingly I look upon you,
You must be he I was seeking, or she I was seeking, (it comes to me as of a dream,)
I have somewhere surely lived a life of joy with you,
All is recall’d as we flit by each other, fluid, affectionate, chaste, matured,
You grew up with me, were a boy with me or a girl with me,
I ate with you and slept with you, your body has become not yours only nor left my body mine only,
You give me the pleasure of your eyes, face, flesh, as we pass, you take of my beard, breast, hands, in return,
I am not to speak to you, I am to think of you when I sit alone or wake at night alone,
I am to wait, I do not doubt I am to meet you again, I am to see to it that I do not lose you."


By Walt Whitman

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Hoje é sexta-feira


Sexta-feira. Quantas para trás? Quantas virão ainda?
Falta ar, onde sobrava. Sobra sua risada, provocando-me.
Juro, amor, você não me provocaria duas vezes.

Juro.

Lê meus pensamentos? Eu, aos teus. 

sábado, 2 de setembro de 2017

A árvore da escada



Na escada nasceu um pé de planta masculina, amadeirada, que tem raiz forte e prende meus pés nas subidas e desliza-me quando volto. Meus poros sorvem a sensação de pés nus.

​Fiquei muito tempo sem palavras porque engoli todas elas.

​Da escada, essa planta alastra-se noite e dia pela casa...

No banho, seus longos galhos alcançam-me, lavam meus seios
No silêncio da tarde, levam-me às águas das vontades, dos desejos todos
O frescor do verde lambe minhas costas, alcança minha face e me faz arder onde eu nem pensava mais...

Na escada, cumpro meu destino.


(Suzana Guimarães)