Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CONSAGRAÇÃO



Catedral é seu corpo
Nave esplêndida em ângulo reto
Onde estendo minhas asas

Sou pássaro, desde feto
Sempre fui
A vagar pelos céus da procura infinita.
Incansável,
Alcei alturas absurdas só para encontrá-lo,

Cá estou,
Penetrando em seus segredos
Ouvindo o som que arde em meu peito
Ecoa em ti?

Sim, catedral é seu corpo
Onde adormeço
ferida de voo...

Cessam em mim
pensamentos rasteiros
de um tempo perdido sem ti
Onde chamas ardiam isoladas
Quando eu o chamava em vão.


Por Suzana Guimarães

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MEU CASAMENTO

(Fotografia, por Suzana Guimarães)




                                                   Los Angeles, 28 de novembro de 2011.




                                                    Querido amigo,


O inverno se aproxima no deserto californiano... Os céus se vestiram de cinza, constante cor a embalar as horas. Às vezes, esquenta um pouco, chego a pensar em praia, mas as águas do Pacífico sempre tão geladas afastam meu pensamento e me levam a pensar em casacos de frio, boinas, luvas e cachecóis. Sei que por aí, está chovendo. Apesar dos estragos que fazem, tenho constante saudade das chuvas tropicais, do cheiro de terra encharcada, do barulho dos trovões, da correria das pessoas nas ruas e avenidas alagadas.

Mas, esta carta tem sabor de primavera, cheiro de roseirais, som de risos ao longe, sussurros ao pé do ouvido e a alegria das borbulhas do champanhe... eu me casei, caro amigo!

Era fim de tarde, o Sol se deitando nas águas do mar, o alaranjado colorindo o céu, onde gaivotas sobrevoavam, testemunhas mudas, quase que intrometidas. A cerimônia foi para poucos amigos e parentes, algo singelo, íntimo, devoto. Foi na praia. Caminhei ao lado do meu bem, por alguns minutos, o tempo que gastamos para ir da casa dos pais dele até a tenda montada, ornamentada com tochas e conchas do mar, nas areias de uma praia quase deserta, tranquila.

Ele vestia calça e camisa brancas, eu, um vestido em rendas e fendas, também branco. O cabelo dele, negro, realçava a cor; as orquídeas em meus cabelos balançavam-se ao sabor da brisa. Havia riso em nós. Andávamos de mansinho, sem pressa, ele falava em tom baixo, em Espanhol, sim, ele fala em Espanhol, um sonho de menina que guardei... eu ria, respondia em Inglês e em Português, porque nos compreendemos em várias Línguas e ele quer aprender a nossa. Ah!, até penso sobre isso, que ele não aprenda muito pois eu gosto do som que ouço quando ele pronuncia meu nome, bate as sílabas na boca, parecendo um carinho, gosto do sotaque, do jeitinho insistente de tentar pronunciar corretamente.

E gostamos de nossas diferenças, nossos costumes antagônicos, eu sempre tão barulhenta, ele, quieto, manso! E gostamos da sensação de plenitude que o nosso estar perto nos dá e de nossas peles, dos toques, dos arrepios, da sensação constante de vento fino a passar por nós, nos aproximando, mas também dando espaço.

Foi servido, após a cerimônia, Mimosa, champanhe com suco de laranja, um coquetel enfeitado com sementes de romã. Muito bom mordê-las... e água de coco. Frutos do mar, arroz branco, carnes ao molho de ervas e de hortelã cremoso, saladas e frutas secas, muita tâmara, que adoro!

Nossos pés descalços nas areias, no chão, assim como estávamos quando nos conhecemos naquela insossa tarde de quinta-feira... Os convidados ganharam sandálias Havaianas como lembrança da festa.

Passamos três dias num barco, à deriva, soltos no mar, em Lua de Vênus.

Meu amigo, estou sob o império das nuvens, andando em ruas estelares, cavalgando em prados verdes, macios, e pouco me importa o frio que espreita, querendo entrar, pois em mim, se faz verão.

Em mim, cantam todos os pássaros, em peito cheio e aberto, em mim, gravita a perenidade.


                                      Um grande abraço,


                                      Suzana/LILY


                           (Um texto de Suzana Guimarães)



NOTA: Texto confeccionado para o amigo Helcio Maia, do Blog "Palavra Fátua".

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EM ÁGUAS




Embalsamada minha alma...
Tranquei-me em luto branco
Fechei boca,
Ouvidos...
Entrefechei os olhos.
Os ventos secaram as lágrimas
O tempo ganhou


Fui para a praia
Areias brancas
Palmas brancas
Mar branco, céu branco, eu, um conjunto.


Atirei-me ao mar
Misturei-me às espumas
Entreguei-me às ondas


Sou silêncio.
O grito morreu faz tempo na garganta trancada.


Sou um som antigo...
Embala-me, mãe, embala-me.



Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CREPÚSCULO



Me despi de você

Num tempo que não se conta
Na hora morta
Me despi de você
Na beira da praia
Na beira do caminho
À margem do rio
De um alto sem fim

Larguei o anel que era nosso
Os meus pensamentos em ti
A tua imagem beijando meu rosto

Larguei tudo
Inclusive eu.


Por Suzana Guimarães

domingo, 6 de novembro de 2011

POR ACASO

Suzana Guimarães - arquivo pessoal



Emagreci
Cortei o cabelo
Cortei as unhas, bem curtas
Você viu?


Engordei
Pintei de vermelho meus cabelos
Enrolei colares no colo nu
Você viu?


Cheguei
Toquei o sino na porta
Esperei
Contive a ânsia no peito, insisti
Masquei um chiclete, dois, três
Você viu?


Sentei na beirada do mundo
Com o cheiro do melhor perfume
Compus músicas e até fiz graça,
Fechei o tempo para fazê-lo intrínseco
Esperei...


Você viu?


E agora vem você, presumindo saber de mim.


Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DEVASTAÇÃO




Esta casa não é minha


E nem os sonhos que me compunham

Nem meus, os olhos que tanto quiseram ver


Esta boca que sorri

Também não é minha

Meu corpo caminha perdido

da alma

que se aquietou

Parou

Mergulhou no breu de um canto mudo

Desfez-se da vaidade da leveza

Pesa num canto da casa, é talvez uma cômoda, um aparador


Nada é mais meu, tudo se tornou devastação.


(por Suzana Guimarães)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DETALHE



Entreguei-lhe um anel
você o deu à outra
Besuntei-me de odor
você cheirou e levou para ela
Enviei-lhe a minha camisola de dormir
você forçou a entrada no corpo dela


Postei-me diante de você
Você tentou arrancar o fluido cintilante que dança à minha volta
para enfiar no corpo dela


Você me quis, no corpo dela


Mas, eu sou procissão de fé
Sou corte que não se transmuta em cicatriz
Sou pele que não guarda digital
Sou rio sem volta
Sou o ontem dentro do hoje


Sou o amor de quem me quiser amar.

Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

NOJO



Todos se calaram.
Perderam a festa?
O que realmente viram pela fresta?
Cadê a pedra que rolou?
A vida que girou...
Por que perderam a graça?
Por que você perdeu a graça?

Por que teu medo segura teu calcanhar
a cada passo, a cada ensaio
no teu palco de palhoça?


Trapezistas de palavras, gente comedora de verve alheia.


Por que todos se calaram?
Você ganhou aquela guerra?
Por que você não lustra mais tuas garras fracas, repõe tua munição?
Por que você perdeu a fala?

Porque você não estava na praça.
Porque vocês vivem feito traças
finas, rápidas nas palavras, e vazias debaixo de mão pesada.


Dispenso tuas falsas profundezas...

Por Suzana Guimarães

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

QUANDO O AMOR ACABA



Eu não rasguei as cartas. Não risquei teu nome na agenda de endereços e nem deletei você dos arquivos do meu computador. Não guardei o álbum de fotografias no quartinho dos fundos, muito menos lancei fogo nele. Não me sentei no chão e quebrei a moldura, o vidro... com ponta de tesoura, na tentativa vã de aniquilá-lo. Mesmo que você morra, você permanecerá.

Não ganhei ao nascer poderes mágicos de esquecimento e nem uma borracha enorme o suficiente para apagar tudo o que vivemos. Eu não posso apagar o que vivemos porque estaria apagando um tempo da minha vida, curto ou longo, pouco importa, foi minha vida, durou intensamente feito uma vela a arder.

Não adianta acender velas, fazer promessas. Não adianta tomar remédios. Conheci uma mulher que passou pela cirurgia de Lobotomia, ela queria esquecer... morreu louca, inútil, definhando em cima de uma cama; e não esqueceu. Não vou procurar benzedeiras, videntes, cartomantes para pedir aconselhamento sobre nós. Deixei Deus em paz, deve ser muito cansativo ser Deus... ora eu pedi a Ele que você ficasse, ora pedi que você sumisse, que voltasse, que me amasse, que me odiasse.

Não releio nada do que escrevemos. Não revejo imagens passadas, cenas. Não bebo para esquecê-lo porque só bebo quando estou feliz, e, ultimamente, não tenho bebido nem uma taça de vinho sequer. Não enxoto você de meus pensamentos, peço delicadamente à tua alma que você se vá.

Guardarei as cartas, as lembranças, as fotos... Eu amo a minha existência por completo, tanto os momentos bons quanto os ruins, do início até hoje. Não sou um ser com espaços em branco.



Por Suzana Guimarães

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A PORTA PARA COMENTÁRIOS ESTÁ ABERTA


(fotografia de SCG, arquivo pessoal)




Ok! Vocês venceram! Reabro a porta da casa, o espaço é de vocês. Só não prometo mais a reciprocidade que antes cobrei e que uso como lei na minha vida.

Sejam bem-vindos!

Foram os comentários de vocês que mantiveram a casa aberta.

Um abraço,



Suzana/LILY


Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.

LEMBRANÇA QUE DÓI, ETERNA



imagem: Raíssa Medeiros


Lembra-se? A gente saía para as ruas, atrás daquelas músicas. A Lua em cima a nos contemplar, você falava baixo, estremecia meu corpo todo, roçava a barba em mim. Você sorria, as mulheres rodavam suas saias, o som de violino embalava nossas almas extasiadas, o bosque escuro e eu, eu vivia como que embriagada. Você sorria e enlaçava minha cintura em direção à roda. A noite nos mergulhava em espécie de delírio, como se atados por laços de pétalas, pétalas das rosas com as quais você me cobria entre beijos e abraços.

Lembra-se daquelas noites? Já faz tempo, muito tempo, mas ficou em mim as palavras 'yo soy tu hombre'. Hoje, a brancura que desceu sobre a cidade, nevoeiro denso, pareceu me guiar para essa lembrança... Tampou a crueza dos dias atuais e eu podia ouvir você me chamando, relembrei tua voz baixa, teu corpo oferecido para mim, quente, diante do meu. Eu podia ouvir o teu chamado, eu o ouço há um século ou dois, mas eu não sabia, eu nunca sei se para norte, sul ou oeste, mas ardeu em mim o beijo, o último, parecendo promessa, que em mim ainda ferve.


Por Suzana Guimarães

domingo, 2 de outubro de 2011

ELA E EU


(Suzana Guimarães  -  fotografia, Ana Diniz Echabe)


É só questão de tempo, um pouco mais, só um pouco e eu a verei novamente. Sou menino. Sinto pressão no peito. Sinto dor. Sinto alívio. Meu coração aos pulos saltará da boca. Sou menino. Angústia, saudade, tanto tempo, tempo longo, longo, nem me lembro mais, tento me convencer, mas ela virá. Ela chegará, sim, ela chegou e eu de novo em frente a ela, como sempre foi. E ela ri. Ela ainda ri. E ela me olha, apaixonada. Ela ainda me ama, ah, sim, ela me ama. Ela se mexe. Ela ainda se mexe, bastante, fala, anda, senta, revira meu velho coração.

Sim, agora sou ancião. O velho encurvado. Sou passado. Sou tristeza. Arrependimento. Sou o reflexo mal refletido dela, pois ela nunca saberá, mesmo que pense saber... Sou velho, sou um passo para trás, sou melancolia. Queria estar longe, queria ir embora, por que estou aqui?

Sou novo, sou viril, sou homem. Ela pendura-se no meu pescoço, cumprimenta-me. Ela sempre foi assim, eternizada assim, riso, volume alto, volume baixo, olhar cabisbaixo... sou homem, ela me toca, ela pergunta, ela finge, sou homem, sou comichão, sou passado passeando à flor da pele, sou avião voando alto, sou todos eles, de saudade. Sou homem e a toco, três dedos pressionando a cintura dela, sentindo o velho cheiro, sou menino, sou velho, sou homem. Sou recordação.


                             Por Suzana Guimarães

sábado, 24 de setembro de 2011

CALMO AMOR



(fotografia, por SCG)

Não sei se era todo dia, mas era sempre. Eles iam para lá. Pular da pedra e mergulhar. Ele cantarolava ao ouvido dela, coisas que ela não entendia, mas era bom o som, era bom quando eles se apertavam entre as pessoas para assistir aos mergulhos." Águas cálidas", ele dizia. Ela tinha medo. Ele dizia "não diga que não pode, não diga que não pode". Ela passou a vida tentando dizer isso para si mesma, com pouco sucesso. Ela agora ouvia sempre, palavras saídas daquela boca que cantarolava uma singela música, que ela nunca entendia. "Águas pálidas, plácidas...", ele dizia, olhando o mar cinza prata agarrado aos céus, numa única visão. Era outono. Era quase frio, quase tarde. Ele pulava sozinho para ela aprender, para ela ver, para ela ir. Ele voltava e se encostava nela. Passava a mão no braço dela, uma vez, duas, três, várias vezes, pedia calor. Um dia, eles pularam juntos, abraçados. Antes do pulo, um segundo. Ele sentia o corpo dela tenso, suado, hesitante, a respiração quase em suspenso, os músculos travados, o medo estampado. Ele esperava. Olhava para ela. Olhava o mar atado ao céu, cantarolava a música e esperava sentir a hora, quando o corpo dela afrouxasse. E tchibum! Mar adentro, dois corpos quase juntos, quase soltos, quase noite, quase entregue amor.


por Suzana Guimarães

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ah, TUCA...



(fotografia de SCG, arquivo pessoal)

Mas, Tuca, nesta vida há quem se esconda feito rato no esgoto... ah, isso há, e lá, no esgoto, está cheio de computador.

Sua amiga,

Suzana Guimarães



Nota: isso não é ficção, apesar de estar postado aqui. É pura realidade.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

DOCE HOMEM (V) - última parte



Cabelo graúna, minha doce ficção, lotada de pele, suor e risos.

Ah!, como tu me fazes rir, só de pensar, só de lembrar, só de pegar, só de escutar, só de tentar.

Cabelo graúna, eu poderia, ao ouvir tua boca dizer meu nome pela primeira vez, puxar esses teus cabelos, atirá-lo ao chão (como se fosse fácil!), eu poderia prendê-lo corpo a corpo na parede, de encontro ao teu riso calmo, certo, constante, macio, macio, feito tuas mãos nas minhas, feito o som das sílabas, todas elas, vogais, consoantes, com som, como antes, pronunciando meu nome.

Ah!, enfim, esperei tanto, pensei que jamais dirias. Mas rolou a língua para dentro de si, calcou o peito, prendeu ar e soltou devagar, reverberou, acentuando errado, mas encheu a boca e falou e eu que poderia sim, poderia sim, tu irias deixar, deixar eu lhe atirar do outro lado da sala, da areia da praia, do lado de lá do pier, por além dos arbustos do gramado, apenas levantei os olhos e olhei, gozei com o som, o tom.


por Suzana Guimarães





segunda-feira, 5 de setembro de 2011

DOCE HOMEM (IV)



Andam perguntando por ti enquanto você pergunta por mim... Você aguarda meu retorno e eu sempre a ti me movo, em giro lento de cabeça, passo calmo, riso manso. Andam perguntando, perguntando se você é delírio, quimera, você meu doce homem...

Saudades de teus olhos negros, teu sorriso em nossos olhos, transparentes, sem medos, sem janelas trancadas. Nosso palácio está vazio, barulhento apenas de nossos silêncios. E eu nem sei bem como dizer e apenas espero que você segure minhas mãos novamente, como se tocasse pétalas e eu olho isso, sim, eu gosto de olhar o que você faz, cada vez que ajeita minhas coxas para mais perto de ti, e desliza gesto. Amor é feito de gestos, amor tem mãos, tem tesão.

E deito a cabeça em teu peito, não, não em tempestades, terremotos, insanidades, deito minha cabeça em ti e me entrego, em tua pele, sim, amor é feito de peles, amor tem mãos, tem tesão... esse meu último segredo, entrego minha pressa... Pressa? Só longe de ti, só longe de teus olhos. A ti entrego minhas tolices, assobio de pássaro ao longe, só para ouvir teu riso ou alagar-me no rio escuro dos teus olhos.

Sou pétala de rosa branca pousada em tua pele amadeirada.

Sou sem adorno, pois o que carrego é apenas brilho nos olhos, quando os meus cansados e medrosos descansam nos teus.

Em teu cabelo da cor da graúna, eu toco, mas você pensa ser apenas mecha que escorrega e a puxa para trás.

Sou mulher fácil entre tuas pernas e quando teus olhos vazam os meus.

Você me olha e o tempo para e eu que sempre corri, corro, não. E eu que sempre disfarcei, disfarço, não!

Andam perguntando por ti. Eu, que nem sei mais de mim. 

                                              
 Por Suzana Guimarães


                                                                  DOCE HOMEM (I)

                                                                  DOCE HOMEM (II)

                                                                  DOCE HOMEM (III)

                                                                  DOCE HOMEM (V) - última parte


Pra ser amor, tem que ser feito.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FEITO MORTE


(Fotografia de SCG - arquivo pessoal)



a calha seca

jorrou impávida

molhou

deve ser assim a morte, pensou

deve ser assim ânsia subindo peito arfando

pés queimando, frios, ardentes... deve ser assim

trotando no breu

tateando

pulsando

garganta seca

a face louca

arisca

sua.


Atiça a moça morta

Aviva a murcha rosa


a boca busca mais que suga.


Para, para o tempo

para agora

precioso vício

queimando

em última cegueira


(por Suzana Guimaraes)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NOTA DE ESCLARECIMENTO

(fotografia de SCG - arquivo pessoal)


Queridos leitores,

Sei, sei bem, setembro ainda não chegou. Nem eu. Continuo na longa e demorada viagem. Estou aqui apenas para dizer que a saudade é enorme, mas ainda não posso escrever, por condições simplesmente técnicas.

Eu gostaria também de dizer que não haverá mais ' caixa de comentários ' em meus Blogs. Sem os comentários de vocês, no passado, eu não teria sobrevivido. Teria morrido à míngua de palavras. A presença de vocês nesses meus espaços foram brisa que canta aos ouvidos ou mesmo o empurrão, ' vá, prossiga'.

Mas, chegou o tempo do silêncio, do livro pendurado estático na prateleira. Chegou o tempo da leitura muda e o meu tempo só.

Em minha solidão, escreverei, lerei os textos de vocês (sim, continuarei minhas visitas, a partir de setembro, mas estarei calada), estudarei outra Língua (talvez eu me entenda melhor em outro idioma), mas, principalmente, de uma forma ou de outra, continuarei.

Durante a viagem, pensei em criar página nova e sumir com as antigas. A ideia era mudar tudo e começar de novo. Velha mania minha, a de sempre recomeçar.

Porém, eu entendi que há hora também de continuar o caminho. Tanto tempo de trabalho e dedicação e o acolhimento de minhas palavras por pessoas especiais... nada disso poderia morrer pra renascer.

Gostaria de deixar bem claro que adoro os e-mails que recebo, leio todos e respondo a todos. Se quiserem comentar algum texto ou apenas me xingar, façam sem pudores.

Meu endereço de contato continua o mesmo:




Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

LUNNA, TEU LIVRO VOLTOU


(fotografia, por SCG)



Caros leitores,

Em setembro, como prometido, voltarei. Entretanto, este espaço, esse livro na prateleira (para alguns) terá outra formatação e dinâmica. A dona do livro já não é mais a mesma, e, todo acessório acompanha o principal.

Suzana/LILY



Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

MAIS UM BEIJO... E, TIAL!

fotografia, por SCG




Queridos,

Creio que vocês perceberam que eu me despedi por várias vezes, mas, confesso, isso é mal de família. Lá em casa, temos o hábito de despedidas sem fim: um beijo, tial, dois beijos, três, quatro, agora vou mesmo, mais beijo, tapinha nas costas, ah! me esqueci de dizer..., mais beijo, juízo, hem?, e a gente vai e volta até à porta.

Estou aqui para dar o último beijo, smack!, sentiram aí?

Fui ali. Fui ser mais feliz, mais feliz porque isso é estado de espírito e o meu é sorriso só. Aproveito que vou ali e regulo a máquina do tempo, lavo umas roupas sujas na beira do rio, esqueço, esqueço, esqueço, será que repetindo e repetindo dá certo? Eu tento, eu sempre tento. Vou ali ser feliz, perder a hora, o juízo, não sou de ferro, vou voar, navegar, passear, tomar Sol, bastante, até torrar, não se preocupem, eu uso protetor solar inclusive à noite. Disseram-me outro dia que cheiro a 'sunscreen', isso me deixou intrigada, preocupada, fiquei pensando, pensando... será que cheirar a protetor solar é bom?

Mais um beijo... com cheiro de 'sunscreen' ou não,  e o meu olhar saudoso, de tudo que vivi aqui. Foi bom, não foi? (Rs!)


Até setembro!


Smack!, de novo.

terça-feira, 31 de maio de 2011

NO DESDOBRAMENTO DA ALMA

(fotografia, por SCG)


Helcio Maia pediu-me um texto em homenagem à quadringentésima postagem no Blog de sua autoria 'Palavra Fátua'. Escrevi  'No desdobramento da alma', CLICA AQUI para você conhecer o Helcio e ler o texto.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

ESTOU NA FESTA DA RAÍSSA


( fotografia, por SCG e confecção dos doces por crianças em aula de culinária)
              CLICA aqui, PARA VOCÊ SE ENCONTRAR COMIGO

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CEGUEIRA


fotografia, por SCG


Ela, na janela, vendendo frutas. Ele passa toda tarde e toda tarde diz para ela "eu a amo, eu a amo". Ela, na janela, vendendo frutas, sabe, ele não a ama, ele ama a moça rica e linda. Ela é pobre, apenas vende frutas, expostas, exóticas, na cesta rasa. Ela é cega, ela não o vê, mas ouve toda tarde "eu a amo, eu a amo". Ela queria cortar os cabelos, ela queria conhecer o mundo, saber a cor dos olhos dele, não voltar nunca mais para casa. Ela ouve os passos dele ao longe, sabe que é ele, sente o cheiro de aldeia. 

Ele passa toda tarde para contar para ela, pois ele tem certeza, com a moça rica e linda ele provará todos os frutos do mundo, subirá todos os montes. Ela também tem cheiro de aldeia.

E os cheiros se casam bem.

Ela, na janela, não tem tristeza, tem vazios, dois vazios, os dos olhos.

Ele canta para ela o amor dele, que é puro, é terno, juvenil, muito melhor que todas aquelas frutas, que só murcham.

Ela, um dia, come a fruta do dragão, o melão com chifres, todas as rambutans e uma mangostim, enquanto o escuta, atenta. Depois, fecha a janela e para lá, volta não.

Ele não fala mais "eu a amo, eu a amo"... Ele anda pela cidade e não se ouve mais aquele som cantado, de amor romanceado.

Ele não sabe, mas ela ri.


por Suzana Guimarães

quarta-feira, 18 de maio de 2011

DOCE HOMEM (III) - ufa! continua...


Cá estamos nós, novamente nós, e tu ris, tu ris e pouco se importa, palavras, palavras desnecessárias nesta terra árida em que fazemos sombra, mormaço lambido em nossas caras já em riso, em véspera de gozo, neste nosso jogo, silencioso, vaidoso, e eu te pego e te puxo, e te toco. Em que Língua? Doce homem, cá estamos nós e eu lhe digo, ao pé do ouvido, I will die, I will die... silencioso homem doce, eu te leio todo, e toco meu ombro em teu ombro, meus quadris em quase arco, quase ato, e grito I will die, I will die... e tu dispensas línguas e todas as outras Línguas, fazes de mim a caída da pitanga, da amora, framboesa, em tua proeza de laçar minhas ancas e girar-me e fazer-me pluma, tão leve, tão leve, escorrendo, descendo o aclive, subindo aos céus, tão devagarinho, homem doce de gestos certos, homem em ângulo reto, que conheço no toque da pedra dura, homem de poucas palavras, muito riso, bastante juízo pra não me deixar morrer. Não, não me deixar morrer... me vira ao alto, me faz tocar as tuas nuvens, rolando-me, e já nem sinto meu peso, apenas os ventos soprando, soprando, ritmados, no compasso teu, pois agora és tu quem mandas e eu só digo I will die, I will die...


Homem doce, ébano, noite, que desconhece poder da letra, que não se perde em palavras, mal me toca, mal me prende, mas me segura pelo corpo, sem esforço, que fala na minha, na tua, na nossa, qualquer úmida língua, mostra-me que a morte mora entre nós, no meio de nós, esmagada entre teu peito e meus seios, amassagados, minha flor afagada entre teus quadris, exigentes, urgentes, mas lentos feito a morte, feito a sorte de te pegar meu, todo em minhas mãos. Ando sentindo cheiro, cheiro doce, suave, quando repouso minha asa de ave fêmea em teu peito, homem que me faz doce... faça isso, me cala, apaga da minha boca sílabas inúteis, incita-me a uma boa briga, interrompa-me, ressuscita-me em meio às minhas fracas palavras, tão brandas, perdidas na tua força. I will die...


 por Suzana Guimarães



segunda-feira, 16 de maio de 2011

DOCE HOMEM (II)




Doce homem doce, caramelado, mel bronzeado, olho e gosto e sempre provo. Tu me lembras canela queimada, sou tua amada e me rio da tua passada. Homem doce, vem você de novo, debaixo de meus mormaços, vem para os meus braços, encalorados, vem em pluma, na beirada da praia em noite sem Lua. Homem doce, de riso solto, que me prende e me deixa afoita e que toca e me deixa sem rota... Desejos rubros, te olho nos olhos, encontro em rumo esculpido desejo, gosto sim deste teu jeito jocoso de quem goza e me olha e me sufoca e me deixa cristalizada... de tão eternizada neste teu balanço, nestes teus braços que me prendem nesta pele queimada da costa, sem desenho, sem cheiro, pura mistura, eu me abro, me fecho, te prendo, já conheço teu espaço, de cima a baixo. Vem você de novo e me pega de jeito, me põe no teu peito, ri do meu rosto em gozo, diz palavras roucas, profanas, adorna as brancas, aquelas que deixei vazar no vão dos olhos, quando tu passavas por mim e em mim deixavas...

aquele doce caramelo de mel, lambuzado de desejo de mim.

por Suzana Guimarães


sexta-feira, 13 de maio de 2011

JÁ NÃO ME CABE

fotografia, por SCG
O texto está publicado no Blog O MEDO DE SUZANA.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

E A RESPOSTA É...

fotografia, por SCG
                                                                            

Sim, fui obrigada a tornar meu outro Blog, O MEDO DE SUZANA, privado. Mas, ainda não recusei ninguém (o Blogger.com permite apenas 100 leitores), pois ele se tornou privado apenas para ser não-público a quem não quer aparecer de forma alguma. Respeito essa posição, se mostra quem quer, mas me vi no direito de esperar o pedido de convite ou mesmo o aceite ou a recusa ao meu convite. Sim, já convidei pessoas que não quiseram me ler, declinaram do convite. E, outro dia, removi uns dois.

Sim, machuquei alguns dedos no jiu jitsu e uma semana depois sofri um acidente doméstico. Sim, eu sei, acidentes acontecem, bem e mal querer também.

Sim, passei um ano surtando. Avisei meu afastamento dos Blogs em várias ocasiões, e, uma única vez foi por motivo de saúde. As outras vezes? Falta de preparo para lidar com situações conflituosas. Simples. Acumulei idade, cicatrizes e fantasmas nas caixinhas que eram para ser de música com bailarina, e não aprendo o saracoteado. Cadê a bailarina? Vira sapateado. Fica a música, a música que a gente, pelo menos, eu, eu continuo a ouvir, insistentemente.

Sim, sou temperamental. Sim, eu perco o tino. Sim, eu sei, há pessoas que me adoram e outras tantas que me odeiam, mas estou aqui por causa das que me amam. O tempo de me preocupar com os pensamentos e desejos alheios já se foi, perdido, perdido, mais perdido que um mosquitinho de brilhante nas areias da praia.

Não, eu não pretendo parar de escrever. Sim, continuo treinando e lutando jiu jitsu.

Não, eu ainda não viajei.

Sim, eu visito três ou quatro amigos blogueiros por dia, pois ainda não estou em férias, de fato, mas passo dias sem vir aqui, às vezes, e dias sem vê-los também. A partir de setembro, pretendo manter uma certa rotina (não sou boa nesse quesito).

Sim, eu consegui acabar com 2/3 daquela lista enorme que estava pregada na porta da geladeira.

Sim, avisei que ia diminuir as publicações e visitas, mas que não me ausentaria até à época da minha viagem. Porém, um problema na família desorientou-me e eu fechei as portas dos Blogs de forma repentina.

Não, eu não surtei.

Sim, eu me afastei por questões não-emocionais.

Sim, estou aqui para dizer que me dói ler que você sente falta dos meus escritos, das minhas risadas, do meu choro, dos meus passeios e comentários. E eu queria prometer um roseiral de textos, cachecóis coloridos para o frio, luvas de plumas, minhas mordidas de formiga cabeçuda da cabeça vermelha, hum... mordidas finas picadas... Eu queria escrever sobre os meninos que passeiam na orla da costa californiana, tatuados, em esqueites, soltos, ao vento, suados, olhares mornos... ou sobre certos homens dirigindo certos carros enormes que cruzam as esquinas e nos deixam sem viseiras, à beira... hum... isso me lembrou a Lua do Lobo Mau, sim, ela mesma, quem a conhece, sabe.

Eu também ouvi dizer que... e isso me dá um conto ou três.

Sim, estou viva, inteira e feliz apesar de.


                                          SMACK aos amados,


                                          "I`m sorry" aos demais.

                                                    
                                                                 por Suzana Guimarães/LILY


Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

CONTOS DE LILY - ano 2


ilustração, por R. Meneghini



Poderia estar chovendo fino, manso, num dia silencioso, e a palmeira em frente à vidraça bateria, bateria, feito uma sineta tocada, uma campainha, a mão querendo entrar, conhecer, tocar.

Poderia estar chovendo fino e a moça me daria uma sombrinha, diria 'boa viagem'!

Poderia estar chovendo fino lá fora, mas não está. Faz Sol lá fora, dentro de mim, uma geleira.



Petrificadas, assustadas, amedrontadas, as palavras fecharam-se dentro de um corpo, o meu.



Alguém estende os lençóis da cama, asperge alfazema, pensa em mim, anseia por mim, e os dias sufocam-se escangalhados, inseguros, perdidos em cima de um piano mudo. As notas musicais também petrificadas e não se fala mais em arte, poesia, detalhes.



Poderia estar chovendo fino, poderia haver riso, ah!, eu poderia escutar, mas poderia é longe, é do outro lado do mundo, lá, onde a menina não coroou a santa, não saiu na melhor fotografia da escola, não encontrou o que procurou.



Hoje, a menina senta e escreve, digita, ela ama o som que as teclas fazem, mas há mais espaços vazios entre cada toque que palavras, que alguma coisa qualquer que possa sair de dentro dela. A toalha da mesa da festa está em guardanapos, assim como os cristais. A janela sequer se abriu nas ensolaradas tardes.



Poderia estar chovendo fino lá fora, para comemorar todas as idades da menina que se perdeu num tempo inexistido, chacoalhado na bagagem, nas dobras das entrefechadas encruzilhadas do caminho ilusório.



Imóvel a palmeira, mortas as palavras e a menina dorme. Eu, eu a velo.



                                        'PODERIA', por Suzana Guimarães

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ENFIM, aconteceu

ilustração, por R. Meneghini

Tempo, senhor traiçoeiro. Travaram luta, ele e minha alma. Ele queria todas as coisas, agenda completa, bem preenchida, caderno de receitas por ordem alfabética, livros enfileirados, roupas guardadas em degradê de cores. Ele queria cochilos imprevistos, beijos e abraços furtivos, locomoção, desvarios logo ao amanhecer. Ele queria palavras, palavras, um punhado de encher as mãos... Ela, a alma, queria silêncio, diálogo de olhos, perfume no ar. Ela queria esperar o dia certo dos acontecimentos, ela insistia em conjugar o verbo esperar, caminhar, e vivia sonhando, tentando alcançar primaveras eternas... ela também sempre ansiou por palavras, principalmente as mais difíceis.

Travaram luta, os dois. Não fiquei para ver o desfecho, parti para outros combates, ocupada demais, deixei que os dois se entendessem. Luta nem sempre é briga, pode ser dança. Que dancem os dois, então!

Mas o tempo, que não traiu minha alma, apenas a provocou, instigando-a a uma boa luta, traiu meu corpo, na estrada, enquanto eu fazia percursos incompletos, por puro medo dele, dele me alcançar; por isso, o incompleto.

Farei um caminho, o meu caminho, e sequer passarei pela Espanha. A minha rota é certa, longa e demorada. Não sei como estará ele, o tempo, nem minha alma (dela, ando me escondendo), mas com certeza, levarei no coração outros corações, pulmões, dedos em teclados, mãos. Levarei os toques que me deram, os enfeites nos cabelos, os presentes.

Meu caminho tem bilhete de ida e volta e com certeza haverá paradas para um café, ralo, sempre ralo, um pouco de pão, copos d'águas, a troca de nossos risos e até das mágoas.

Em cada parada, deixarei um pouco de mim, pois assim devemos ser, descascados, descascando, passando e deixando, pelo menos, pelo menos, um perfume ainda não inventado, algumas cartas, bilhetes, flores em ramalhetes.

                                           Suzana Guimarães, a LILY.


Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.

domingo, 10 de abril de 2011

ENTREMENTES





Sou o respiro que antecede duas línguas




aquele que mal se sente



sou o vão entre duas bocas



o não, não esquecido




Sou um brilho opaco que passa rápido



entre olhos que se olham



sou lágrima seca que vive escondida



não jorra, enganosa.




Sou a palavra desmaiada, ainda viva, ainda viva



que apenas adormecida



existe, mesmo que supostamente esquecida




Sou o excesso de lençol



sou a cama dura, macia



desconforto



sou muita luz, pouca luz



sou dor fictícia




Sou desgosto



sou porto d`alma



sou pensamento, saudade, lembrança




Sou um risco riso de sonho.



Impalpável...



                                                            
                                                                  ( por Suzana Guimarães)