Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LEMBRANÇA QUE DÓI, ETERNA



imagem: Raíssa Medeiros


Lembra-se? A gente saía para as ruas, atrás daquelas músicas. A Lua em cima a nos contemplar, você falava baixo, estremecia meu corpo todo, roçava a barba em mim. Você sorria, as mulheres rodavam suas saias, o som de violino embalava nossas almas extasiadas, o bosque escuro e eu, eu vivia como que embriagada. Você sorria e enlaçava minha cintura em direção à roda. A noite nos mergulhava em espécie de delírio, como se atados por laços de pétalas, pétalas das rosas com as quais você me cobria entre beijos e abraços.

Lembra-se daquelas noites? Já faz tempo, muito tempo, mas ficou em mim as palavras 'yo soy tu hombre'. Hoje, a brancura que desceu sobre a cidade, nevoeiro denso, pareceu me guiar para essa lembrança... Tampou a crueza dos dias atuais e eu podia ouvir você me chamando, relembrei tua voz baixa, teu corpo oferecido para mim, quente, diante do meu. Eu podia ouvir o teu chamado, eu o ouço há um século ou dois, mas eu não sabia, eu nunca sei se para norte, sul ou oeste, mas ardeu em mim o beijo, o último, parecendo promessa, que em mim ainda ferve.


Por Suzana Guimarães