imagem: Raíssa Medeiros |
Lembra-se? A gente saía para as ruas, atrás daquelas músicas. A Lua em cima a nos contemplar, você falava baixo, estremecia meu corpo todo, roçava a barba em mim. Você sorria, as mulheres rodavam suas saias, o som de violino embalava nossas almas extasiadas, o bosque escuro e eu, eu vivia como que embriagada. Você sorria e enlaçava minha cintura em direção à roda. A noite nos mergulhava em espécie de delírio, como se atados por laços de pétalas, pétalas das rosas com as quais você me cobria entre beijos e abraços.
Lembra-se daquelas noites? Já faz tempo, muito tempo, mas ficou em mim as palavras 'yo soy tu hombre'. Hoje, a brancura que desceu sobre a cidade, nevoeiro denso, pareceu me guiar para essa lembrança... Tampou a crueza dos dias atuais e eu podia ouvir você me chamando, relembrei tua voz baixa, teu corpo oferecido para mim, quente, diante do meu. Eu podia ouvir o teu chamado, eu o ouço há um século ou dois, mas eu não sabia, eu nunca sei se para norte, sul ou oeste, mas ardeu em mim o beijo, o último, parecendo promessa, que em mim ainda ferve.
Por Suzana Guimarães