Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



domingo, 3 de dezembro de 2017

Dédalo, por Dário B.



DÉDALO

Te procuro à noite nos labirintos dentro de mim. Desfilam nos meus olhos fechados todos os lugares do mundo. E todo o mundo beija-se na minh’alma. Os mentirosos vêm me confessar os seus segredos, os desprezados deitam-se à minha sombra. Depositam a meus pés o cansaço do dia os trabalhadores, os limpos ajeitam o laço da gravata ao olhar para mim. Vago por Cardiff, São Paulo, Amsterdam, sem sair do meu quarto, e me sinto em casa em qualquer lugar. Bailam nas minhas retinas os astros, e partícula infinitesimal que sou, nado no Mar da Tranquilidade, beijo a túnica de Vênus e desafio Marte para uma batalha sem me levantar da cama. Minha mão encostada na fronte me faz sentir pena, ódio, calma, alegria, inveja, sossego, ressentimento, rufião que fui dos sentimentos. Dou a mão aos heróis, sorrio com os vencedores e confraternizo com os fracos. Toco fitas e rendas, mergulho em lírios e amores perfeitos, busco teus cabelos e eles não estão aqui. Resta-me o sonho, desvelo para mim que amo, consolo fugaz que te traz até mim.

- (Dário B.)

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Rei de Paus

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(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)



Fora, dia quente, vapor, um olhar parado na mulher que surgiu - poderiam ter sido tantas outras...
Dentro, nuvem pesada por sobre os dois, um mundo ainda a se descobrir.
Foi quando ele deu uns quatro passos, passou por suas costas para alcançar o lado esquerdo dela
Exato momento em que uma história passa a ser contada.

Um livro que se abre. 
O tempo entrega as cartas
Na mesa, brilha até hoje o Rei de Paus

Mas nem o tempo quer saber; nem Deus



Suzana Guimarães

sábado, 9 de setembro de 2017

Walt Whitman - poem

(photo by Suzana Guimarães)



"Passing stranger! You do not know how longingly I look upon you,
You must be he I was seeking, or she I was seeking, (it comes to me as of a dream,)
I have somewhere surely lived a life of joy with you,
All is recall’d as we flit by each other, fluid, affectionate, chaste, matured,
You grew up with me, were a boy with me or a girl with me,
I ate with you and slept with you, your body has become not yours only nor left my body mine only,
You give me the pleasure of your eyes, face, flesh, as we pass, you take of my beard, breast, hands, in return,
I am not to speak to you, I am to think of you when I sit alone or wake at night alone,
I am to wait, I do not doubt I am to meet you again, I am to see to it that I do not lose you."


By Walt Whitman

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Hoje é sexta-feira


Sexta-feira. Quantas para trás? Quantas virão ainda?
Falta ar, onde sobrava. Sobra sua risada, provocando-me.
Juro, amor, você não me provocaria duas vezes.

Juro.

Lê meus pensamentos? Eu, aos teus. 

sábado, 2 de setembro de 2017

A árvore da escada



Na escada nasceu um pé de planta masculina, amadeirada, que tem raiz forte e prende meus pés nas subidas e desliza-me quando volto. Meus poros sorvem a sensação de pés nus.

​Fiquei muito tempo sem palavras porque engoli todas elas.

​Da escada, essa planta alastra-se noite e dia pela casa...

No banho, seus longos galhos alcançam-me, lavam meus seios
No silêncio da tarde, levam-me às águas das vontades, dos desejos todos
O frescor do verde lambe minhas costas, alcança minha face e me faz arder onde eu nem pensava mais...

Na escada, cumpro meu destino.


(Suzana Guimarães)

sábado, 5 de agosto de 2017

Rumi, poem.



quinta-feira, 20 de julho de 2017

Rumi

(Desconheço autoria da imagem)

sábado, 8 de julho de 2017

Rumi, poem.

(Desconheço autoria da imagem)

quinta-feira, 22 de junho de 2017


Tempo do ócio. É verão na América do Norte. É calmo outono em mim. 

Férias❣

Aos meus queridos leitores espalhados por este mundão de Deus, minha saudade antecipada de vê-los repetidamente nas estatísticas do blogger.com... eu nem sabia que Macedônia era um país (para mim, era uma região do passado), tampouco havia ouvido falar em Mayotte. 

Felicidades, sucesso... são meus votos a todos!

Suzana

terça-feira, 20 de junho de 2017


Realmente, Paris pode esperar. E também meu doce e valente rei de coque! Supunha eu vê-lo e tê-lo assim? Um bom homem sabe fazer uma mulher sorrir. Um bom homem sabe e pode esperar.


domingo, 18 de junho de 2017


(fotografia por Suzana Guimarães)



"céus pousados nos ombros
sais vários temperando o rosto
calando as chuvas

meus ais domingos
antigos cansaços
todos espremidos
num canto da sala
decompondo-se em
tácitos azuis


desenrolo o dia
cotovelos na janela
queimados de sol
e esquecimento:

um fio de cinza
quase beija meu corpo."


Priscila Rôde

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Apenas um casal comum.

(Imagem retirada do Google)





Ele dizia que eu o massacrava, às vezes, dizia, entre beijos e abraços delicados. Ele rotulava-me, às vezes, e eu permitia porque eu gostava daquele jeito dele, educado e medroso de me perder de vista. Éramos doentes, até hoje seríamos, somos. A gente não se curou, a gente aprendeu a disfarçar nossos males, muito mais ainda nossas belezuras... Dois loucos idênticos! Um terceiro disse que foi um encontro infeliz quanto ao tempo dos dois, ambos em vendavais pessoais.

Ele dizia que era para nunca mais, eu também. Ele me detestava e me amava; e eu também, a ele.

Ele me deu um mundão de palavras, uma tempestividade inapropriada, perfeita em mim. Eu gostava de provocá-lo só para vê-lo em fogo, e, por isso, acabei por dar-lhe olhos e levantei a beirada da manta na qual ele insistia em se cobrir (o restante da manta, ele arrancou sozinho).

Eu sonhava com ele e nem em sonhos a gente conseguia ser um casal normal. Bom, a gente nunca foi um casal... vontade deve ter baixado mais vezes que espíritos na casa do vô Bento, entretanto.

Entretanto, havia doação bilateral. Havia magia. Há magia, até hoje os ventos gritam nos meus ouvidos o nome dele. Parece provocação. É! Mas eu aprendi a lidar com isso, converso com o vento, levanto uma lista enorme de argumentos, entre queixas, sorrisos, acusações, desejos homicidas e mostro ao vento que eu sou ocupada, tenho a minha vida - seja ela do jeito que for - para cuidar.

Ele dizia que eu era grossa, doce, corajosa. Eu também soube xingá-lo bem, isso foi o que melhor fizemos juntos!

Ele dizia que eu o massacrava... hoje, aplaudo, curvo-me, sorrio e faço uma reverência. Penso, "Sou tua, sou tua, até você me provocar".



Por Suzana Guimarães

terça-feira, 13 de junho de 2017


"Depois de três pontos finais na nossa saudade, acabamos criando reticências...

(...)"

Angel Popovitz

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Centro histórico de São Luís/ Maranhão/Brasil


(Brasil - Foto de Franck Santos)

sábado, 27 de maio de 2017


Não há mais céus que abaixam e elevam-me, muito menos alguma coisa a mais, um olhar, uma passada, algum calor desobediente.

Há somente a estrada a seguir. Pede-se elegância e abstração. O resto todo é morte.

Poderia ser ruim, se fosse em um mundo barulhento e populoso... poderia ser, mas não é.

O sossego é meu irmão, meu pai e companheiro. Sou só, mas completa. Sou rica. Possuo vários mundos em um só e por eles caminho.

Ninguém poderá dizer que não falei sobre águas e amor.

Ninguém poderá dizer que eu nunca tentei.


Suzana Guimarães 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Fervendo em seu mundo novo


Imagino-o por aí - esse outro planeta que você criou, ha, ha!, bem melhor que seu antigo reino tamanho de uma birosca! Imagino-o por aí, fervendo como ferviam meus 'Sais de Fruta', isso realmente me faz rir!; fervendo como as formiguinhas que eu gostava de cutucar e apreciar... fervendo como o leite, que derramava no fogão quando eu desviava o olhar.


Fervendo. 


Imagino-o tentando ouvir o silêncio, tentando decifrar sinais, buscando o 'own'... Quase em vão...

Vejo-o como deveria ser e é. Eu diria, "Sossega, para com isso!". Eu diria assim para o que eu tinha certeza? Não. 

Roda, apreende, reconhece, vê! Roda, caminha, mas saiba que no peito impossível sossegar o tambor. E isso é finito?

Nesse seu planeta, talvez o silêncio o alcance - é ele quem o procura e chama e não o contrário... aprende a recebê-lo: 

Repita infinita vezes uma frase de duas palavras, repita, repita, repita, repita... E então, aí, você não ferverá.



Suzana Guimarães

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Já fui sol


Já fui sol e não sabia. Ardi seus olhos e sua pele. Queimei em você sem dó... porque eu queria, porque ninguém mais fazia. Tantos e tantas que por você passaram e em você ficaram num correr de anos sem piedade - o tempo é mais cruel que eu! -, e muito pouco fizeram ou mesmo nada quiseram... Para despertar o que ardia em segredo, no escrutínio do seu peito; mas eu não sabia, apenas sentia e isso é tudo.

Ardi em dois tempos, em bem menos que quatro mil dias, em bem menos que o todo de uma vida. 

Já fui sol e não sabia. Já quis ser voo cego ao precipício, fingindo ser pássaro; já quis ser morte, e também clausura, catedral antiga, eu só quis...

Você agora é lado de fora, externo, natural. Eu sou quase a mesma, não mais solar, porém... sou planície prata; noturna em pleno dia, sou a continuação do que eu sempre fui. Sou pausa.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

"Também já foram esquecidos..."



Nota de um jornal da cidade de São Paulo sobre a vida que segue no metrô:

"Também já foram esquecidos cadeiras de rodas, espada, carrinho de bebê, colchão, vestido de noiva, bicicletas, penico, narguilé, fogão, carrinho de pedreiro, uma urna funerária, próteses dentárias, próteses de pernas e, mais recentemente, um olho de silicone."

Tanta coisa interessante, algumas difíceis de serem carregadas, coisas enormes que ocupam espaços e os olhos... então, você pode esquecer-me. Esquecer é distração e também arte. Deixa-me, deixa a ideia de mim n`alguma estação de metrô, numa dobrada de escada, num banco de espera, na catraca - não paga para eu passar! Qualquer lugar fora de você está bom e lindo! Quem sabe, completo até as listas dos perdidos e encontrados...


(Suzana Guimarães)

sábado, 8 de abril de 2017

Ele


Ele tem sorriso manso em lábios de promessa. Ele tem cabelo irreverente e estilo próprio. Ele tem um olho que entrefecha... ele aprecia um mundo calmo com pessoas inteligentes e também um pouco insanas, um pouco ansiosas, um pouco fora das molduras... mas, presta atenção em seu olhar. Presta atenção, pois é outro mundo, paralelo a esse que descrevo. Nesse mundo, nesse sério mundo, ele não está brincando. Nesse mundo, trata você de respeitar.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Breve


Fui visitá-la no mesmo hospital; no mesmo Centro de Terapia Intensiva (CTI) em que estive um ano antes. Aquilo tudo era enorme surpresa para todos, assim como havia sido para mim, quando lá, deixei um bilhete mal escrito da minha vida... Ela não me visitou. Ela não soube de mim porque não quis saber.

Olhou-me nos olhos e perguntou-me, "Por que isso foi acontecer comigo?".

Abri as cortinas. Apontei os leitos à volta dela, todos ocupados. Respondi:

_ "Olhe! Você não é a única!".


(Suzana Guimarães, por que a vida é pra ser ficção)


terça-feira, 14 de março de 2017

Será que ninguém chorou por mim por que eu não corri atrás de esquilos para fotografá-los; não fui ao parque, não relevei a existência dos esquilos; pouco me importei com a máquina, pouco me atentei para a tão bela arte da fotografia... será que foi por isso? Eu não corri, afoita, atrás de esquilos no parque.
Posso vê-los; competindo com esquilos.

sábado, 4 de março de 2017


O filtro é denominado outono. O risco é quase de inverno. A promessa cumprida é uma noite quase azul. Juro. Eu vi o céu azul caindo de amores pelo rosa da tarde. Era primeiro de março. Era a vontade de um abraço.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Para o meu rei


​Fica assim, uma recordação de nós. É fim de temporada, é fim de ano, é fim de qualquer começo; tempo de ouvir a chuva caindo, serena. É inverno.

As pessoas mastigam incansavelmente ao meu lado e eu alimento-me e basto-me de você. As pessoas falam muito e alto e eu só sei recordar. Recordo a gente junto, assim, coladinhos, você respirando meu ar que sumia... porque você não sabe, mas eu pensei várias vezes em deixá-la ir de vez, a minha entrecortada respiração, pois, nos braços do rei, morre-se em satisfação. 



​Suzana Guimarães​


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Tão simples!


(Suzana Guimarães, por Rika Silva)


A vida vai
​Também toda fumaça, todo cansaço, até qualquer odor.
Tudo morre quando é vida
Inclusive o amor​

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017



Era um bom momento para dizer, "Eu a amo", ele pensava, aflito, enquanto ela se despedia, falava coisas, e, para ele, poderia ser talvez a última vez, então era a hora, falaria.



​Falaria, mas não falou. Pediu um instante, disse que gostaria de dizer-lhe algo e um silêncio calmo se fez presente. Ela esperou. Ele não falou.


Ele não falou porque o coração gritava muito mais alto: "Eu a invejo."



Suzana Guimarães​