Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



domingo, 5 de agosto de 2012

A LOUCA DA RUA




Não há nenhum moço que me recorde você e isso só faz sofrer porque pareço a louca da rua, que só imagina.
Quando você roçou tua barba em mim, estanquei o sangue que corria, a saudade que se anunciava, toda a fala. Tranquei meu peito, bem guardado, no silêncio da hora, na hora do abraço, guardei o instante como se decora senha. Caminhei para casa em passos miúdos, com medo de perder o tudo pouco que você havia deixado, em axiomas. Eu era só saudade. Na virada da esquina, olhei em volta, vi que estava só, novamente só. Na virada da segunda esquina, eu fui pranto. Abri a água contida, não soltei palavras, a louca da rua às vezes caminha muda e mal sabe teu idioma. 

Onde está, onde está a última fotografia que guardei de ti? 

Em mim.

Por Suzana Guimarães