Eu não rasguei as cartas. Não risquei teu nome na agenda de endereços e nem deletei você dos arquivos do meu computador. Não guardei o álbum de fotografias no quartinho dos fundos, muito menos lancei fogo nele. Não me sentei no chão e quebrei a moldura, o vidro... com ponta de tesoura, na tentativa vã de aniquilá-lo. Mesmo que você morra, você permanecerá.
Não ganhei ao nascer poderes mágicos de esquecimento e nem uma borracha enorme o suficiente para apagar tudo o que vivemos. Eu não posso apagar o que vivemos porque estaria apagando um tempo da minha vida, curto ou longo, pouco importa, foi minha vida, durou intensamente feito uma vela a arder.
Não adianta acender velas, fazer promessas. Não adianta tomar remédios. Conheci uma mulher que passou pela cirurgia de Lobotomia, ela queria esquecer... morreu louca, inútil, definhando em cima de uma cama; e não esqueceu. Não vou procurar benzedeiras, videntes, cartomantes para pedir aconselhamento sobre nós. Deixei Deus em paz, deve ser muito cansativo ser Deus... ora eu pedi a Ele que você ficasse, ora pedi que você sumisse, que voltasse, que me amasse, que me odiasse.
Não releio nada do que escrevemos. Não revejo imagens passadas, cenas. Não bebo para esquecê-lo porque só bebo quando estou feliz, e, ultimamente, não tenho bebido nem uma taça de vinho sequer. Não enxoto você de meus pensamentos, peço delicadamente à tua alma que você se vá.
Guardarei as cartas, as lembranças, as fotos... Eu amo a minha existência por completo, tanto os momentos bons quanto os ruins, do início até hoje. Não sou um ser com espaços em branco.
Por Suzana Guimarães