Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

DOCE HOMEM (III) - ufa! continua...


Cá estamos nós, novamente nós, e tu ris, tu ris e pouco se importa, palavras, palavras desnecessárias nesta terra árida em que fazemos sombra, mormaço lambido em nossas caras já em riso, em véspera de gozo, neste nosso jogo, silencioso, vaidoso, e eu te pego e te puxo, e te toco. Em que Língua? Doce homem, cá estamos nós e eu lhe digo, ao pé do ouvido, I will die, I will die... silencioso homem doce, eu te leio todo, e toco meu ombro em teu ombro, meus quadris em quase arco, quase ato, e grito I will die, I will die... e tu dispensas línguas e todas as outras Línguas, fazes de mim a caída da pitanga, da amora, framboesa, em tua proeza de laçar minhas ancas e girar-me e fazer-me pluma, tão leve, tão leve, escorrendo, descendo o aclive, subindo aos céus, tão devagarinho, homem doce de gestos certos, homem em ângulo reto, que conheço no toque da pedra dura, homem de poucas palavras, muito riso, bastante juízo pra não me deixar morrer. Não, não me deixar morrer... me vira ao alto, me faz tocar as tuas nuvens, rolando-me, e já nem sinto meu peso, apenas os ventos soprando, soprando, ritmados, no compasso teu, pois agora és tu quem mandas e eu só digo I will die, I will die...


Homem doce, ébano, noite, que desconhece poder da letra, que não se perde em palavras, mal me toca, mal me prende, mas me segura pelo corpo, sem esforço, que fala na minha, na tua, na nossa, qualquer úmida língua, mostra-me que a morte mora entre nós, no meio de nós, esmagada entre teu peito e meus seios, amassagados, minha flor afagada entre teus quadris, exigentes, urgentes, mas lentos feito a morte, feito a sorte de te pegar meu, todo em minhas mãos. Ando sentindo cheiro, cheiro doce, suave, quando repouso minha asa de ave fêmea em teu peito, homem que me faz doce... faça isso, me cala, apaga da minha boca sílabas inúteis, incita-me a uma boa briga, interrompa-me, ressuscita-me em meio às minhas fracas palavras, tão brandas, perdidas na tua força. I will die...


 por Suzana Guimarães