(fotografia, por SCG) |
sábado, 24 de setembro de 2011
CALMO AMOR
Não sei se era todo dia, mas era sempre. Eles iam para lá. Pular da pedra e mergulhar. Ele cantarolava ao ouvido dela, coisas que ela não entendia, mas era bom o som, era bom quando eles se apertavam entre as pessoas para assistir aos mergulhos." Águas cálidas", ele dizia. Ela tinha medo. Ele dizia "não diga que não pode, não diga que não pode". Ela passou a vida tentando dizer isso para si mesma, com pouco sucesso. Ela agora ouvia sempre, palavras saídas daquela boca que cantarolava uma singela música, que ela nunca entendia. "Águas pálidas, plácidas...", ele dizia, olhando o mar cinza prata agarrado aos céus, numa única visão. Era outono. Era quase frio, quase tarde. Ele pulava sozinho para ela aprender, para ela ver, para ela ir. Ele voltava e se encostava nela. Passava a mão no braço dela, uma vez, duas, três, várias vezes, pedia calor. Um dia, eles pularam juntos, abraçados. Antes do pulo, um segundo. Ele sentia o corpo dela tenso, suado, hesitante, a respiração quase em suspenso, os músculos travados, o medo estampado. Ele esperava. Olhava para ela. Olhava o mar atado ao céu, cantarolava a música e esperava sentir a hora, quando o corpo dela afrouxasse. E tchibum! Mar adentro, dois corpos quase juntos, quase soltos, quase noite, quase entregue amor.
por Suzana Guimarães