Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 20 de março de 2012

UMA TAÇA DE VINHO VELHO, UMA XÍCARA DE CAFÉ TRUFADO E O ÚLTIMO MINUTO, ATRÁS.

(fotografia, por SCG)



Bateu-me uma loucura branda, daquelas que ninguém vê, só nós mesmos. Uma taça de vinho achado no fundo da geladeira, uma xícara de café trufado por cima e a certeza de que você é minha ilusão, a das mais absurdas que já tive em minha vida; isso tudo, agrupado num corpo exausto e carente, principalmente descrente, sim, cansado da guerra do amor. Tolices! Insanidades que vivemos ou nos colocamos a vivenciar: amor não guerreia. Mas, a tatuagem também invisível, igual à da loucura, recita calmamente: desista de tuas lutas inglórias, desista destes olhos, desista do nome que lhe chama na madrugada, desista de ser o nome que lhe é sussurrado ao pé da cama. Desista dos olhos postos em você, porque outros já fizeram o mesmo e você continua a duvidar de suas poucas armas... nessa guerra maldita! Desista.

Bateu-me essa loucura que remédio não resolve, e eu me remexo toda, vasculho a última vez em que o vi, dois minutos atrás, e revejo o caminho que poderíamos percorrer ou mesmo ultrapassar. Bom, com certeza, todo encontro só começa após a corrida silenciosa ou escandalosa, de obstáculos.

Sim, você é o dono da mais absurda de minhas querências. Renego-o, disfarço, finjo, mascaro. Só não me peça que eu levante os olhos para você, pois, sei, verá o desejo louco e manso, renegado por ser absurdo, mas existente, correndo, escorrendo, ultrapassando a pele que moldura o lago onde você poderá se perder.


Por Suzana Guimarães