sábado, 10 de março de 2018
Da varanda
Chove desde cedo. É inverno. É norte. Você me diz que a chuva cai fina e mansa, você fala de universo sem fim, acorda-me, tenho palavras, sim, você oferta-as, faz um brinde, obrigada, façamos a nós, já é tarde, quase noite.
Ainda chove, ainda é norte e você aí, no sul. Você vê palavras, sentado em sua varanda, eu, agora, em outra, não sabemos o que cada um de nós vê, pois estamos ocupados, ingerindo palavras... varandas.
Eu amo março. Eu amo todas as terras, mas hoje vejo apenas o seu universo... lembra-se... foi você quem começou essa história... eu tão sossegada abarquei seu mundo, sinto, respiro, sei onde pisam seus pés, acomodados também, embora a visão estonteante que essa varanda lhe dá.
Chove desde cedo.
Anoiteceu.
Do telhado, vêm barulhos surdos
Da varanda, vem o mundo
Do mundo, vem você
Você pode também escutar?
Escutar-me?
Suzana Guimarães