Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



sexta-feira, 5 de julho de 2013

INSUPORTÁVEL DOM DE SER POLLYANA

Picture by Suzana Guimarães

Lily surgiu porque já havia um Blog com o nome ´Contos de Suzana´. Daí, pensei na tradução de Suzana que é "pura como um lírio", e, lírio em Inglês é Lily...

Foi assim que começou o Blog ´O Medo de Suzana´ e ´Contos de Lily´, e, consequentemente, a falsa aparência de que tenho dupla personalidade. 
Forte aparência ou não, e pouco me importando, descobri que a Eleonora Duarte soube me ler por todas as entrelinhas... ela fez uma primorosa análise de mim, não sei bem se aos poucos, como se olhasse o mar, ou de uma vez só enquanto percorria as tortuosas ruas de Portugal. Isso foi em julho de 2012.

Leo, você acertou! A Suzana distingue-se da Lily. Descobri isso ao receber da minha mãe todos os meus textos escritos nos últimos anos, impressos.

Eu me deitei para ler. Comecei folheando o ' Medo´. Depois, li alguma coisa em ´Lily´, e, só aí, nesse momento, percebi a gritante diferença.

Respeito a Suzana, mas não gosto muito dela. Prefiro a Lily. Suzana é dócil, procura ajudar, compartilha, pode até perdoar. Lily não veio a este mundo para acomodar, veio para incomodar. Lily quebra os sonhos da Suzana, dá tapas, "espeta com agulhas finas na casa de brincar" - suas palavras, Eleonora. Lily é a Suzana nua, é a pessoa que nasceu do desassossego de saber que há quem veja, mas finge não ver. É fruto do cansaço, da preguiça de gente. Lily não é gente, é o espírito da Suzana que não mais suportou viver dentro de um corpo meio aprisionado, meio ignorado, meio Pollyana. Lily odeia essa menina, a Pollyana. Ela descobriu isso, outro dia, conversando com o Dario Banas. Ele disse que o livro deveria ser proibido. Ela disse que havia o ´Pollyana adolescente´, ele quase desfaleceu.

Lily não perdoa. Ponto. Lily não vê o lado bom em tudo, pois há uma certa lama que, após o toque, é irremovível. Lily incomoda, não sonha, tem ódio de quem se faz de difícil, dos fraudulentos e dos mesquinhos. É debochada e sabe rir do escorregão do outro que a fez triste. Ela é um riso gostoso e leve de vingança, certeza de que a vez de cada um, um dia, chega.

O papel, o palpável, que é o sonho de consumo dela, revelou-me. Ela sou eu, hoje, irremediável remédio.


Por Suzana Guimarães