Por Suzana Guimarães
sexta-feira, 11 de maio de 2012
MAIO
Sidney rega as plantas todos os dias e diz nos esperar. Ele remove a terra, afasta e mata pragas, protege os morangos no inverno. Para Sidney, vinte anos ou dois dias é a mesma coisa, e ele diz nos esperar. Ele parece muito certo, mas não é alegre, muito menos triste, ele se veste de luto e disse esperar maio. Ah, quantos maios já se passaram! Quanto tempo, quantos caminhos que se desfizeram e outros tantos que se criaram ou retomaram? Quanto sereno caiu e geada e chuvas e um calor insuportável ameaçou aquele sítio? Sidney não conta, não faz cálculos, ele olha os céus, escuta o barulho das cobras que se arrastam pelo chão e prevê tudo aquilo que só ele sabe, e parece que todo o mundo sabe e também as luas e os raios, as singelas florzinhas de mato que crescem em desalinho, cobrindo a relva que também sabe. Só nós dois não sabemos.
Nós dois jogamos cartas. Eu lhe dou uma sequência, você me dá única carta e me bate. Inverto o jogo e tudo se ausenta, inclusive você. Ou seria justo o contrário? Não importa. Sidney diz nos esperar e eu espero mais dois dias, e, mais dois só, pois, assim que entrar maio com céu de primavera - até onde já se prenuncia inverno - eu assino a carta que não escrevi, não enviei, sequer entreguei, uma carta de amor. Descobri que só se pode dizer adeus, amando, pegando em mão invisível, tocando dedos que não existem e dizendo, com carinho e ternura, que é hora de nos desfazermos de nosso pacto, oculto laço que rói minhas fibras internas.
Era maio quando nós nos deixamos. Seria em maio que nós nos reencontraríamos.
Sidney enviou-me um mapa, marcou com setas e um 'x' enorme, ele insiste em nos esperar, disse que há morangos prontos para serem mordidos e um campo onde poderemos nos sentar para ver os dias se findando. Sidney ama o nosso amor; nós, não.
Por Suzana Guimarães