Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 1 de maio de 2012

REVELAÇÃO



Com quantos desertos eu te fiz? Sentei na areia para contar. Vi a vastidão sem fim, um dia que se acabava pouco a pouco, da mesma forma como foi sentir você, pouco a pouco... apenas percebi quando eu não sabia mais até onde ia meu nome em ti e teu nome em mim. Faz silêncio, escuta! Eu te fiz mapa, bússola, lagos, rios e mares, enquanto eu atravessava desertos. Quanto andei! Quantas vezes parei? Descobri você quando as areias quentes me tombaram e eu caí, exausta.  Percebi que há solidão em paz, que você pode ser qualquer coisa, um grão de areia a molhar meus olhos, um lago inventado na sede, o grito do pássaro que voa alto ou o que bica o chão, procurando alimento. Com quantos caminhos eu te fiz? O movimento mais monótono, a batida mais constante, nada se iguala... nada se compara, pois eu fui além de mim para te alcançar, fui longe e perto, mas não parei e ultrapassei a vontade dos humanos. Faz silêncio, escuta, você pediu a resposta, eu lhe deixo a pergunta. Até onde eu andei em ti?

Escreva meu nome cem vezes cem, o tempo que contei, e enterre-o nos grãos mais suaves que te tocarem. Leve-me com você, pois já posso te tocar, depois do tanto que te fiz, faço-me grão.

Por Suzana Guimarães