Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

EU QUIS ANDAR DE MOTO COM VOCÊ

fotografia, por SCG

Eu queria andar de moto com você. Eu queria. Eu sempre quis. Desde o primeiro dia até o último deles. Eu queria andar de moto com você.  Eu tive suas pernas, tive teus braços, teu sexo, tua boca e cheiro, mas eu não andei de moto com você. Eu não andei de moto com você e isso me dói. Machuca. Umedece meus olhos. Paralisa onde minhas pernas se fecham. Seca. Até hoje o desejo arde em mim. Ontem, vi um homem em cima de uma moto. Lembrei-me de você quando o Sol queimou meus olhos. E a vontade queimou ainda numa memória em cinzas. Eu queria andar de moto com você. Eu peguei teu corpo por sobre o meu, mas não peguei tuas costas na garupa de uma daquelas motocicletas que você teve. Eu não pude tê-lo junto comigo ao vento, andando por aí, sem rumo, ouvindo nosso silêncio em cima do cavalo de metal. Eu não pude tocá-lo por simplesmente tocar, para segurar, para apoiar... eu quis tanto... E só restou a saudade... Eu quis andar de moto com você e agora é para nunca mais. Nunca mais... Depois daquele dia, você morreu. Você se matou, se apagou, e me deixou aqui.

                                          por Suzana Guimarães