fotografia, por SCG |
segunda-feira, 7 de março de 2011
EM TEUS ÂNGULOS
Por cima de ti, passeio, troto sem dó, estapeio teus lírios, teus idílios. Por cima de ti, recrio o inferno e por ti colho os gerânios, teu androceu. Por cima de ti, invento um girassol, penso em dominó, que me lembra o ébano que me lembra você, que é meu. Sou o branco dos teus olhos negros, sou a parte alva da tua carne dura, dos teus músculos tesos.
Ao redor de ti, escalo montanhas, expilo feito vulcão, sou bebida forte, sou chapa fumegando, o estouro do champanhe. Ao redor de ti, sou suor de guerreiro, sou olhar de lince, voo do falcão. Sou o som que o tambor faz, o marchar da tropa muda, o silêncio que antevém o bote. Sou o próprio bote, sou a naja encarando a outra.
Ao me afastar de ti, sou noites insones de um beduíno perdido em noite sem Lua, sou folha boiando à deriva, sou água de bica, sou moça passando em pinguela.
Por baixo de ti, sou mulher.
(por Suzana Guimarães)