Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



segunda-feira, 7 de março de 2011

EM TEUS ÂNGULOS



fotografia, por SCG

Por cima de ti, passeio, troto sem dó, estapeio teus lírios, teus idílios. Por cima de ti, recrio o inferno e por ti colho os gerânios, teu androceu. Por cima de ti, invento um girassol, penso em dominó, que me lembra o ébano que me lembra você, que é meu. Sou o branco dos teus olhos negros, sou a parte alva da tua carne dura, dos teus músculos tesos.


Ao redor de ti, escalo montanhas, expilo feito vulcão, sou bebida forte, sou chapa fumegando, o estouro do champanhe. Ao redor de ti, sou suor de guerreiro, sou olhar de lince, voo do falcão. Sou o som que o tambor faz, o marchar da tropa muda, o silêncio que antevém o bote. Sou o próprio bote, sou a naja encarando a outra.

Ao me afastar de ti, sou noites insones de um beduíno perdido em noite sem Lua, sou folha boiando à deriva, sou água de bica, sou moça passando em pinguela.

Por baixo de ti, sou mulher.

(por Suzana Guimarães)