fotografia, por SCG |
sábado, 2 de abril de 2011
SOBRE A PRIMAVERA
A minha verdade é primavera. Ontem, saí para as ruas da cidade sem casaco de frio. Quando passei pela orla marítima, senti cheiro forte de maresia. Na noite anterior, senti ventos na janela, na hora de dormir, convidando-me a voar, mesmo seca. Sufoquei-me no inverno passado, tornei-me quase um graveto.
Sim, sufoquei-me... Palavras, casacos por sobre ombros, pesando, mas fazendo-se pouco.
A minha verdade é uma insistência em renovar canteiros, adubar a terra, trocar as flores, sentir cheiros novos. Não quero mais as sementes, pétalas, rosas e espinhos daquela primavera, a que passou. As cores fascinaram-me, tocaram-me profundamente, com tamanha intensidade que alcancei o inverno, duro, rígido, sem perceber.
Sim, sufoquei-me... Palavras, casacos roçando meus seios, minhas costas, braços, pernas, eu toda. Aquelas flores todas, odoríficas. Eu andava pelas ruas, e elas saíam pelas mangas, pelas frestas, entre botões.
Jaz um graveto em terra, não importa, há de chover, há de molhar, há de voar e eu hei de alcançar tudo aquilo que ainda não conheço, mas que me espera, pois toda semente espera.
A minha verdade, na realidade, é mais sonho que verdade.
por Suzana Guimarães
31 comentários:
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O texto acima surgiu de um comentário que fiz no Blog MENINA NO SÓTÃO, em "ERA UMA VEZ UM OUTONO", de Lunna Guedes - 2 de abril de 2011.
ResponderExcluirLindo isso, querida Lily!
ResponderExcluirA primavera nos traz mesmo grandes e doces inspirações... Pude sentí-las em suas palavras!
Beijo carinhoso!
Penso enquanto alguns invernos são “eternos”, entre uma agonia e uma semente.
ResponderExcluirMas a primavera chega mesmo assim, e agente começa a se descobrir nela. E o que você muito deseja o sol brilha bem em cima e deixa a mostra como a nudez de pele e de alma.
Onde se encontra exatamente o melhor lugar para sonhar e realizar..
Desculpa a divagação, mas fiquei enquanto comentava, pensando nos meus invernos.
Amei teu texto Su.
Beijo
Fernanda
A minha também!
ResponderExcluirAmei!
Beijo.
Por um instante seu poema me lembrou aquele clássico da Disney onde após um rigoroso inverno a primavera faz a vida renascer. Somos todos como a primavera, renascendo após longos dias de frio.
ResponderExcluirUm abraço,
Hj por aqui se fez primavera, outono, verão e inverno... Hj foi um dia cansativo e com 4 estações, nais quais teve música na doce voz de Déborah, abraços amigos, um café com guloseimas nordestinas, e o fogo que não se fez fátuo invadiu essa comunhão que os presentes e ausentes (fisicamente, como vc), foram lembrados e as labaredas da prosa e da poesia aportou entre papos, risadas, carinhos, numa pça envolta por lojas de tatoo e videos e consultorios...
ResponderExcluirQue as 4 estações sejam nossas verdades, como hj, como sua primavera! Bjs*
Estranhamente a gente se comporta como as estações. Seca, esfria, florece e da frutos.
ResponderExcluirSempre em ciclos....
A sua verdade é o prazer de renovar a vida, plantando sementes, apreciando as cores e odores das flores, usufruindo dos frutos...
Um constante renovar...
bjos
Sim, toda semente espera!
ResponderExcluirHá de chover, há de molhar, assim será.
Beijooo Su!!
Primavera, o quê, sô!
ResponderExcluirTô noutra. Eu sou é uma baita mentira, contaminado até os pentelhos da alma por esse outono de araque, só chuva, só chuva, só chuva sem vergonha, que sequer apaga de vez o fogo do verão a cada ano mais insuportável nesta terra aqui. Outono, estaçãozinha fake nos trópicos, que de verdade só tem a calvície das árvores caducidófilas. Ora, que diabos posso eu fazer com árvores peladas? A única nudez não-sublime, indecorosa até, é a das ávores. Horror, horror absoluto olhar aquelas fúnebres criaturas com seus incontáveis braços a abraçar o nada, estáticas, estátuas de polvos gigantescos que, de repente, na calada da noite, haverão de inventar o movimento só para penetrar a verdade dos meus sonhos com seus tentáculos e me esganar pelos tornozelos, joelhos, quadris, cintura, tórax... e até pelo pescoço!
Ah, quer saber, querida? Dane-se o outono, danem-se as árvores peladas teophicidas, dane-se o quintal do meu coração inundado por um oceano sem sal, azedo, corrosivo, chorume de folhas de tudo que é tipo de pé-de-mulher que foi brotando, à minha revelia, em quantidade amazônica, pela vida afora. Quero mais é cantar, cantar baixinho, bem baixinho, quase em silêncio, mais que em silêncio, com voz e jeito de caranguelo, só os olhos a saltar acima da testa para gritar:
Vem cá, Suzana
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar, Suzana!
Jobim desgraçado, que me seduziu a vida inteira mas, se entrar na dele eu entrasse, me trocaria sem pestanejar pela primeira gameleira fuleira que passasse!
Beijos e mais beijos (mas não em excesso, senão eu me desfolho todo também)
Caranguelo...
ResponderExcluirDeve ser caranguejo lá de Carangola, praia que banha o caminho entre a minha Lepordina e a sua Toflotoni.
sabe , eu viajei em tuas palavras, visualizei como em um filme.
ResponderExcluirNa primavera passada, enquanto sentia o vento da madrugada entrar pela janela, conheci uma menina de letras fáceis e sentimentos expostos em imagens e contos reais ou imaginários. Ela que corre na neve, que escreve nas ondas da praia, hoje brinca com as flores e sente o vento abraçá-la. Na primavera passada, conheci uma pétala de flor, hoje essa pétala transformou-se no mais lírio branco do meu jardim. Lírio de palavras belas, de pétalas perfumadas e de vendavais perfeitos...
ResponderExcluirEssse lírio é você, Su-su!!!
Beijos!!!^^
Lindo domingo
♪ "Isso é o que mais me agrada
ResponderExcluirIsso é o que me faz dizer..."♫
=D
Beijo.
Fiquei aqui, suspirando como quem morre (disseram-me dias atrás que suspirar é o mesmo que morrer, várias vezes, seguidamente) não me convenci disso, mas achei poético. Eu que nada tenho contra a morte, vejo-a em diversos lugares, como agora que olho pela janela e avisto as brancas nuvens de uma tarde acizentada, com suas horas inteiras, pela metade, pelos quartos, quintos... Por mim, por aí... Fico aqui em silêncio, imaginando a sua primavera que chega até mim através da Angélica que floresceu fora de epoca (como de costume) e das demais flores que colorem as muitas árvores pelo caminho. Há o vermelho a minha direita e o rosa mais a frente... São cores e perfumes de uma primavera que deveria ser apenas sua, mas São Paulo é isso na maior parte do tempo "uma grande confusão" não apenas das estações do ano.
ResponderExcluirE pensar que há dois minutos atrás eu era só silêncio. bacio
Amiga,
ResponderExcluirPrimavera é sempre sinônimo de renascer!
Adoro!
Beijinhosssssssss
Que lindo! me vi em muitos momentos do texto,
ResponderExcluirprincipalmente o fim. Minhas verdades são todas sonhos!!
Beijos, querida Lily/Suzana.
PS: muito legal que participou do curta, parabéns!! estou louco pra ver.
Este texto é mais um que poderia ter sido publicado no O MEDO DE SUZANA... pois, não é ficção. Fui egoísta e falei da "minha" primavera, insistente tentativa.
ResponderExcluirNo Brasil, é outono, eu sei, sou tão Brasil... nem posso dizer sou tão Minas, tão Bahia, pois nunca fui provinciana, sempre deixei portas e janelas escancaradamente abertas para todo o mundo... e, atualmente, sou brasileira, só isto e tudo isso. Tenho dois relógios, tenho duas estações, dois corações. Tudo dois, porque sou daqui também... há uma parte em mim, americana... há quem não goste, eu também sei, mas há azul e vermelho salpicando-se em mim. E isso é só uma questão de vivência.
Bom, ainda nem bebi o vinho que está na geladeira. Hoje, fui para a cozinha fazer comida especial. Depois do vinho, quem sabe, volto para um final de noite (aqui, início de tarde)... quanto a ti, Teopha, você me engasgou de tanto rir e depois cantou baixinho no meu ouvido... tão bom!
Minhas visitas acabam de chegar... fui!
Beijinhos a todos!
Suzana
PrimaVera é muito boa!
ResponderExcluirMas é no inverno que o sêmen celeste penetra profundo na prostituta Mãe Terra e fecunda o ventre que irá gerar os frutos benditos!
Xêros mils!!
Su, lindona, que momento feliz! Ler essa primavera tão sua, tão cheia de braços, tão contaminada de vida e ainda em Tom maior.
ResponderExcluirPensei na minha verdade e sonhei!
Bjão e semana bem bacana
Passando pelo sotão da amada Lunna entrei no seu santuário poético e vejo todos envolvidos com as estações , isso é bom , sinal que focamos na natureza e nos sinais que ela nos passa a cada mudança .
ResponderExcluirGostei tanto daqui, vou ler mais um pouco.
deixo abraços e admiraçao pelo belo texto e se fosse possivel gostaria de ler os "contos de Lily"
é surpresa toda vez que entro, é saudade toda vez que saiu.
ResponderExcluiré primavera em mim toda vez que leio...as suas estações.
as vezes é preciso haver falencia no corpo, ou seja, na semente pra que ela possa - viver tudo aquilo que há pra viver - adora essa musica.
beijinhos
Texto muito bom! Muito imagético e sensitivo.
ResponderExcluirDo sonho nasce a obra!
beijo
continue a se entregar....
ResponderExcluirvc é sempre Maravilhosa
Que ótimo que vc voltou
obrigado pela visita lindOna
tô felizOna
bjs
=D
a minha primavera
ResponderExcluiré um cuspir de flores
por todos os passos
e caminhos
e andares
e lares
e o perfume guardado
nas narinas
é minha sina de saber
o sabor do verso
quando de inverso
atravesso a beira
e a beirada da calçada
estrelando na manga
um perfume pitanga.
Beijos Suzana.
Enquanto lia o texto da Lu e depois o seu aqui fiquei pensando no grupo dos cinco. Seria assim que eles se formaram? Porque eu acho que os escritores se identificam através da paixão que as palavras causam um no outro. Estaria eu errada? Não sei, sabe, ainda sou amadora, minhas palavras não alcançam ninguém e eu nem tenho coragem de ir mais além. Estou aqui no canto aprendendo com a Lu e agora com vc. Gostei muito dessa sua primavera. bjks
ResponderExcluirEu e o tempo
ResponderExcluirSemeio / espero
Espero andando...
Su grata por ter levado a tradução mas sim já sabia da letra, não levou as traduções pq isso pra mim é como o tempo
Cada um tem o seu, e eu que não tenho pressa só sigo... sigo enfrente pois o que tenho é urgência.assim no silencio deixo sobre o vôo que o som atraia as libélulas assim como o aroma da maresia feita em um deserto que não seca pq tem dama da noite que só floresce pq tem água da chuva que refresca seu corpo verde de fibra e água.
Olha de rugas eu não entendo, entendo e da alma, as que são flexíveis, contrai e expande feito músculos da face quando sorriem sem pensar lá que possa esticar tanto que mais tarde todo aquele sorriso expandido possa ser sucos de uma fibra e teimosa cara valente que ainda em dias secos ou chuvosos, frios, quentes estava ali naquela estação de trem, onde em momentos deitava-se ao chão encostando seu ouvido nos batentes do trilho pra ouvir a quantos metros poderia estar aquele trem que passava por ali.
Mas Suzana vc me faz rir muito e pensar, em resumo sempre gosto de ter lá sua visita
Sabe procurei pra carregar comigo a flor branca em minha bolsa mochila, mas não achei será que seco e di novo voltou pra terra pra outra vez voltar a florescer?!
Bjinhos e que a primavera seja como um rodopio embalado feito dança de colibris a vc Fada Amiga.
Lily,
ResponderExcluirBelíssimo seu texto ...
Simplesmente me deixou encantada !
Feliz em poder te ler.
Bjo e um Dia de Paz.
Sabe, quero muito conhecer O medo de Suzana.
ResponderExcluirSou tão curiosa que as vezes até me assusto,mas não adianta, o susto não me muda em nada e eu continuo a mesma...a curiosa que ja tentou ate descobrir onde ficaria o fim do céu...que loucura,as 4 estações também me fascinam e eu calo diante da beleza delas, consigo ouvir e entender o silêncio de cada uma e confesso qe isso me faz apaixonar ainda mais por elas...não saberia te dizer qual eu me identifico mais, mas posso te afirmar que todas me seduzem de uma tal forma que, em alguns momentos lágrimas molham o meu olhar e eu sem entender...continuo a admirar...
Engraçado, lendo você, viajei e eramos nós duas caminhando por um lindo lugar e uma boa conversa de nossos lábios a explicar momentos tão maravilhosos que transitam em nossas mentes ao encontro com a natureza e que tão bem nos faz...e isso não é sonho, mas sim verdades de uma abençoada realidade.
Beijosssss SU.
'Palavras, casacos
ResponderExcluirroçando meus seios,
minhas costas, braços,
pernas, eu toda.'
minha emoção fatia assim esta frase simples e requintada, que eu plagiarei, sem qualquer escrúpulo (não tenho isto, bate-me intragável já ao ouvido: em vez, tenho crepúsculos), assim que meus seios desabrocharem.
você é uma senhora escritora, pronta de embevecer e assustar!
bjs
Por aqui, é nos setembros e outubros
ResponderExcluirque a sua verdade desabrocha,
que as cores todas das flores
se mostram...
É quando elas perdem o medo
e se misturam,
se desnudam
pelas praças,
pelos canteiros
e em corações
cheios de poesia,
como o seu.
Suzana,
ResponderExcluir"A minha verdade é uma insistência em renovar canteiros, adubar a terra, trocar as flores, sentir cheiros novos."
É assim que te sinto.
Beijos
Denise