fotografia, por SCG |
A inquietação das suas pernas, que o levaram aonde bem quis, inclusive na boca do inferno. No coração dos céus? Até mim.
Sei que você me coloca no colo e me lê. Em cima dessas suas pernas, em cima da cama, em cima da mesa. Posso ver os seus olhos, o brilho ainda vive na minha lembrança. Você ficou assim, lotado de minhas palavras e eu com seus pedaços: suas pernas, tão longas, suas mãos, tão longas... sim, feito o lobo mau. Tantos pedaços que catei e guardei. Seus olhos e aquele pedaço de risada, pequena, leve, rápida.
Sei que você jura não mais me ler, mas cai em tentação, e seu material é frágil (não, não, nem tanto, você pode conter uma enxurrada), mas eu sempre fui a sua tentação.
Sei que você está aí e me lê. E lembra-se de que não viu o capeta, mas me viu. E eu o cortei, em tiras. Até hoje você procura os pedaços deste seu corpo ardido, desta sua alma que não mais tem o sossego da minha. Seus pedaços? Estão comigo.
Sei que você me lê e sente a paz de quando me via. De quando sentia meu cheiro por perto e meus olhos parados em você. Ou fugidios. De você, mais fácil escapar, mais difícil ficar. Mas eu ficava, e deixava-nos girar, você em mim e eu em volta de você, um círculo, um vício. A droga. A faca. Sim, com aquela mesma faca eu o cortei. Eu tive os dois em minhas mãos, lembra-se? Seus olhos apenas, de tão cegos e fumegantes, não puderam ver. Ou você nem se importava.
Mas, hoje você me lê. E se importa, já não pode mais me ouvir, e nem eu ser para você, ouvidos. Ou mesmo a sapiência de tudo que você sempre foi. Eu sempre soube tudo, meu segredo mal revelado, mal escondido. Sabotado.
Você me lê e eu me vejo no direito de lhe perguntar, mesmo não esperando resposta, deixo solta, pega aí: o que você fez com o vazio que ficou? Voltou com a faca para o mesmo lugar? Você só a tem porque eu a tinha. O que você fez com os espaços que eu preenchia, no sofá da sala, na murada, na calçada, lá onde águas corriam silenciosamente? Cortou o pé daquela fruta para me matar de vez? Coitada da fruta, pois eu continuo. E permaneço. E sei que sou agora o seu fantasma.
Você pensa me ver atravessando a rua, correndo para entrar num táxi. Você pensa que o barulho lá fora, sou eu chegando, para a rotina do domingo. Você vê o meu cabelo nos carros que passam. Você se lembra de mim quando sobe naquele pé de fruta que você não cortou. E dorme comigo entre os dedos. Quantas vezes você me tocou, eu, entre seus dedos, no metal dourado que me reflete, quantas vezes você passou o dedo de leve, e recordou?
Você se lembra de que depois rimos de tudo? Sim, eu também ri, em minha solidão, você nunca soube disso. Você se lembra do morro? Da praça? Você ainda come peixe com alcaparras? Ou nunca mais voltou lá? Ou voltou com tantos outros para se machucar?
Pois eu de nada disso me lembro. Eu virei borboleta. Voei para longe e no caminho o lancei aos ventos. Porém, tenho aqui comigo os seus pedaços. Venha! Venha buscá-los. Coragem? Você não a tem. Eu fui a sua maior coragem, eu fui o seu melhor tropeço. Eu fui o melhor de tudo aquilo que você se arrependeu de ter feito.
P.S.: Pensou que eu não lhe deixaria palavras? Sim, essas são suas, especiais para você.
Beijos!
Suzana,
ResponderExcluirA domadora das palavras,
da palavra escrita
- que sei, que leio.
Que as domina,
as molda a seu gosto,
as cria,
reformula,
enriquece,
aquece,
e assim nos emudece,
aos juntar letras aos milhares,
certeiras,
complexas
e capazes de conectar
mundos e corações!
P.S. Num estalo, um carinho pra você!
nossa me deixei lervar desde a primeira linha... quando enfim cheguei ao final senti vontade de ler tudo de novo e por fim escolhi uma parte que me deixou desnortiada: "E dorme comigo entre os dedos. Quantas vezes você me tocou, eu, entre seus dedos, no metal dourado que me reflete, quantas vezes você passou o dedo de leve, e recordou?"
ResponderExcluireu penso que agora eu durmo com ele entre os dedos... essa frase me lembrou um passado recente.
eu estou tão sensivel essa semana...
beijinhos, adoro ler você
Nossa!!!
ResponderExcluirEu li e respirei fundo. Li e chorei. Li e fiquei com vontade de mandar para alguém as suas palavras.
Su-su que texto forte, intenso e cheio de pedaços que se destacam na saudade do ter...
Lindo demais!!!^^
Adoorei!!!
Beeijos
Em nome do pai!!!
ResponderExcluirMe abstenho.....
Falta-me estrutura
Fica a oferta do aconchego...
bjos
Sem palavras, sem ARRRRRRR, Su!!!!
ResponderExcluirQue textooooooo!!!!
Um abraço gigantescoooooooo minha flor!
Coisa bonita, encantada assim, dedicada sem citar nome, é pra mim, Su. Peguei e pronto!
ResponderExcluirMas sei que para garantir a posse terei de enfrentar a arrogância do Teopha nos tribunais...
Beijos
Suzy: Como é possivel escrever tão belo texto, tens a magias das palavras dentro de ti e na ponta da lingua, nunca me passou pela cabeça ver-te escrever com tanta precisão e delicadeza.
ResponderExcluirBeijinhos
Santa Cruz
Su,
ResponderExcluirLi, reli e li novamente, isso é de uma perfeição, que embriaga. Fiquei tonta, menina.
Que gentileza a sua de deixar palavras.
Bjos carinhosos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ claro que as recebo com todo o carinho do mundos as suas adoráveis e doce palavras. Risadas.
ResponderExcluirIsso é que é brincar com palavras.
Abraços
Linda sensibilidade para trasnmitir em palavras as emoções... e nos fazer senti-las junto contigo!
ResponderExcluirMe deixou sensibilizada...
Beijos no seu coração!
Lis
Su, queria convidar-lhe para escrever no Nossas Marés dia 23 de outubro. Que achas??! =D
ResponderExcluirManda um email para mim, please: suzana.martinss@gmail.com
Beijos, querida!^^
Intenso
ResponderExcluirTá ok confesso: Viciei em suas palavras...
Ah, é por essas e outras que eu viciei em você, não vivo mais sem tuas palavras.
ResponderExcluirEu acho que és a feiticeira das palavrinhas, consegues colocar o que quiser nelas, intensidade, paixão, dor, carinho.
é sempre bom vir aqui.
e dizer que adoro quando apareces no meu blog, teus comentários sempre fazem a diferença.
tu és daquelas almas, que dobram mas não quebram.
Um beijo voando direto praí!!
INTENSO!
ResponderExcluirLINDO!
PERFEITO!
aff...faltou-me palavras..vou ler de novo!
bjossssss
MEODEOS!!!!
ResponderExcluirPeçote permissão para postar teu texto M A R A V I L H O S O no meu blog, pois parece que são minhas essas palavras para alguém...
Quer saber? eu gosto mesmo é disso, das coisas viscerais. Daquilo que vem daqui de dentro. E você é intensa.
ResponderExcluirBeijooO'
Olá Suzana, adorei este seu texto, você tem o dom da escrita! Parabéns. Voltarei mais vezes.
ResponderExcluirTenha um bom fim de semana
Bjs
Sãozita
Nossa... olhei até para traz, pensei que aqui estivesse!
ResponderExcluirHahaha!
"Pois eu de nada disso me lembro. Eu virei borboleta. Voei para longe e no caminho o lancei aos ventos. Porém, tenho aqui comigo os seus pedaços. Venha! Venha buscá-los. Coragem? Você não a tem. Eu fui a sua maior coragem, eu fui o seu melhor tropeço. Eu fui o melhor de tudo aquilo que você se arrependeu de ter feito."
ResponderExcluirQUE PERFEEEEEEEEEITO *-*