quarta-feira, 20 de outubro de 2010
SOBRE SER INSUBSTITUÍVEL OU NÃO
Dedico este "post" aos meus leitores, principalmente a você que me lê (não apenas os textos), comenta, interpreta, agradece, insinua, pergunta as razões, se faz presente, se faz eterno em minha vida.
Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de você(s). Sim, eu sei o tamanho dos laços que vamos criando neste mundo estranho, onde não nos vemos, não nos pegamos, não sentimos cheiros e nem ventos. Sim, tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto. Mas gosto, por isso a agonia.
Agonia, curiosidade, mania, hábito. Vocês pensam que não sei de vocês e eu penso que de mim nada sabem, mas descobri nestes cinco meses de "vida além dos teclados", que somos todos muito espertos, bisbilhotamos, fuçamos, lemos por entrelinhas, sentimos o peso dos dedos nas teclas. Quando penso que vocês nem chegaram perto dos meus sentimentos, vocês ironizam, divertidos, sabendo, revelando minhas verdades...
Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de vocês, mas eu não gosto de verbos no subjuntivo. Eu não sei viver subjuntivamente. O mundo não se fez a partir de um verbo tão precário. Desconheço esse tempo verbal, conheço o presente e estico os olhos para tentar planejar ou imaginar o futuro. Então, eu digo: por gostar tanto de vocês, esta minha saída, mesmo que temporária, dói.
Estou aqui para tentar explicar o meu afastamento, inclusive a razão de marcar uma data longínqua para o meu retorno. Meu coração, principalmente ele, e a minha mente não querem que eu me afaste, mas meu corpo exausto e a alma desgostosa gritam para eu parar. Eu preciso me esconder para poder me achar. Preciso organizar os meus armários, dobrar as saias e guardá-las por ordem de serventia ou cor, ou mesmo desfazer-me delas. Preciso polir meu anéis, abrir livros fechados, enfileirar meus sapatos. Preciso brincar no quintal do meu mundo e me ocultar atrás dos lençóis que balançam desinteressadamente ao vento.
Preciso parar de escrever para vocês pedindo um tempo. Cinco meses de "Blogs", quatro pedidos de "break". Certa vez, contaram-me a história de uma louca. Ela fugia todos os dias. E era encontrada todas as vezes no mesmo lugar: em cima do muro do hospício, andando de um lado para o outro. E, se permitissem, de lá não sairia. Ela andava rindo ou cantando, vestida num camisolão, alheia ao mundo, não caía nunca e ia e voltava fielmente, cumpria a jornada do muro. Eu não nasci para isso. Ou pulo de vez para dentro e fico ou ganho a rua.
Nas vezes anteriores em que parei, eu planejava ficar um bom tempo ausente, mas os insubstituíveis chamaram-me de volta e eu voltei. Ao longo da minha vida, ora ouvia dizer que somos substituíveis, ora ouvia dizer que não. Aprendi com elas, com todas as pessoas que cruzaram o meu caminho, que somos insubstituíveis, mas, se quisermos, conseguimos o contrário. São as pessoas que decidem se serão ou não substituíveis na vida da outra. A minha mãe é insubstituível, porque ela quer ser assim na minha vida, ela faz a parte dela, ela se compromete comigo todo o tempo.
Você(s) é insubstituível para mim porque você assim quis e assim age. Você insiste, você quer, você teima. Você me ganha todos os dias, estando você bem ou não, feliz ou não. Você faz questão de estar na minha vida e quer que eu esteja na tua. Não há quem o substitua, você não cede o teu lugar, você se faz presente, você não vive subjuntivamente, você é o momento agora, esse em que me encontrou.
Por isso, eu sofro. Por isso, eu cantei a música "Agonia", do Oswaldo Montenegro no "post" anterior.
Fechei a caixa de comentários, mas o "e-mail" que está no meu perfil é o oficial. Quem quiser me escrever, que o faça, sem melindres. As palavras jamais deixarão meu mundo. Preciso ausentar-me, mas carinho e delicadeza não dispenso em hipótese alguma.
Pouco sei de muita coisa, mas muito sei sobre o tempo delas. Quem sabe esperar aprende a contar o tempo. As palavras aqui se ausentarão, mas as imagens, não. Fazendo questão de ser insubstituível em tua vida, passarei aqui ou aí, na tua casa, e deixarei um pouco do meu cheiro, aquele que só você consegue sentir.
Beijos,
Suzana C. Guimarães
Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.