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Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quinta-feira, 24 de junho de 2010

CARTAS

                        Suzana C. Guimarães

Quando eu morrer,
Não me enviem
Cravos, flores
Rosas brancas.
Quando eu morrer,
Me enviem cartas.
Quero cartas
Em papéis de seda,
Papel rascunho,
Muitas folhas
Ou uma única.
Mas, prefiro as longas...
Me enviem cartas
De amor
Desabafo...
Irrefreadas candongas!
Que falem da última fornada de bolo
Sobre o filho que nasceu
O pai que morreu.
Me conte sobre as últimas músicas
Últimos livros, últimos poemas que sorveu
Me descreva a última viagem ou a primeira
Pois eu amo cartas.
Enviá-las ou recebê-las...
E tantas foram as cartas
Que li e reli,
Minhas ou alheias...
Rasgos de cartas,
Cartas quase que incendiadas
Cartas mofadas, esquecidas,
Renascidas em minhas leituras
Pelo simples amor
Que eu sempre dediquei a elas...
Sem maldade, sem culpa que me acuse.
O primeiro beijo,
Aquela noite inesquecível
Aquela madrugada insuportável.
Ou não conte nada,
Escreva um infinito de pontinhos
Entre palavras desconexas.
Me conte daquele abraço que pediu e
Do beijo que aproveitou para roubar!
Do sono que perdeu.
Me fale dos Réveillons em que preferiu dormir
Do Natal que não viu passar...
Choramingue o amor não correspondido
Que, para não se esquecer de quem já lhe esqueceu
Diz que comprou aquele disco
Que toca o dia todo feito vício.
Me escreva a mais simples verdade
Use melodia...
Ou as maiores mentiras.
Mas, cartas.
Não me envie rosas
Principalmente as brancas
Não as quero mais.
Morta, largo mão de tolas queixas,
Dos sonhos escorridos pelos vácuos
Morta, apenas cartas...
Iniciem com "Querida",
Terminem com sua ida.
Iniciem com meu nome
Ou aquele que você sonhou me chamar
Ou aquele que você me chamou em sonhos...
Morta,
Estarei sem mãos,
Rosas, não as poderei pegar.
Morta,
Abrirei os olhos tão eternamente fechados
Para minhas cartas alcançar.

8 comentários:

  1. adoro cartas, cartas de amor, de saudade, de paixão, de notícias de lá, do mundo de outras pessoas... e, faz tanto tempo que não recebo cartas com o admirável mundo nv dos emails, msns...
    Bj*

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  2. Aquele envelope enfiado por debaixo da porta... Descobri uma coisa quando estava me preparando para deixar o Brasil: a gente não precisa carregar as cartas! Fui obrigada, durante semanas, a rasgar, queimar e até afogar (num enorme balde, cheio de água e sabão em pó)agendas velhas e cartas, muitas cartas... Não antes de lê-las...
    pois, eu não podia mais carregá-las. Contudo, elas permanecem comigo. Forever!

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  3. Te enviarei uma carta "escrita num papel de pão", que tal?

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  4. Adoro cartas, tanto em papeis amassados, papeis dobrados... Papeis. A tinta que mistura-se com o papel em letraas e versos traz a pessoa para mais perto. As lembranças seraão eternas!!

    Lindo demais!^^

    Beijos

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  5. Lindo, lindo demais!
    Adorei conhecer teu blog.
    Beijo

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  6. Cartas são poéticas demais. desde o pedaço da gente que vai e chega ao outro traduzido em letras e sentimentos, até a viagem que faz pra chegar ao destino.

    Lindo, lindo, Suzana.

    Beijoca

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  7. oi Suzana...
    Que lindo, estou lendo e no final foi inevitável o choro, ao mesmo tempo que é poetico e singelo é tão real e previsível. Me vi em vários parágrafos, é muito louco tudo...
    Beijos e até...

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  8. Néia,

    Fiz o mesmo que você, reli. Sinto a mesma emoção de quando escrevi o texto acima. Ele surgiu após eu receber a mais bela carta da minha vida... via e-mail, mas dá na mesma, os tempos são outros...

    Beijos,

    Suzana/LILY

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