Como é que foi mesmo?
Eu vou contar
Era um baile,
Uma valsa mal dançada
Acho que eu estava cansada
Havia pouca luz
Pouca pista
Pouco amor
Um monte de dor.
Como é que foi mesmo?
Já está começando a desbotar...
Era noite
E o baile havia acabado de começar
Eu fiquei tanto tempo sentada
Que me perdi
Já não sabia mais o que estava fazendo ali
Convidaram-me para dançar
Tantos pares
Tantos passos
Tanta gente, tanto em minha mente.
Você apareceu e começamos a ensaiar uma valsa
Os músicos em desarmonia ou seríamos nós?
Eu queria outra dança, outro som, eu queria descer uma cachoeira, numa balsa.
Eu só pensava em águas.
Dançava, ou engolindo seco, ou com o coração sobressaltado
Aquela sensação de que se vai cair ao chão em segundos,
Seus olhos em mim, sentindo quem era eu - ilusão!
Dança de toques, mãos borboletas, sensação de cãibra.
Pensei melhor seria largar aquela valsa mal dançada...
Se me oferecesse,
Se você se preocupasse,
Eu tomaria uma taça do mais puro vinho
Para tentar um bailar mais digno de nós,
Talvez compassado.
Mas você não ofereceu a taça
Você, tão preocupado com os passos.
E eu com a sede.
Como é que foi mesmo?
Já não me lembro mais.
Lembro-me dos olhos, da boca.
Lembro-me da cor das minhas sandálias,
Lembro-me da cor da tua roupa.
Esqueci os passos, esqueci a valsa
Os anos se passaram
Eu não conto mais contos de fadas
Mas a vida não me enfada
Eu vivo do que me agrada
Penso em balsas,
Penso em cartas...
Num encontro que nunca entendi,
Mas me compreendi
E você me deixou legado,
Alguns presentes - intocáveis!
Penso naquelas horas, apenas nas horas.
Nem preciso acordar de sonhos
Vivo acordada todos eles.
Bem melhor agora.
Talvez os músicos ainda estejam lá, nem viram a gente sair
E, pensam, iludidos, que nos tocam.