(SCG - arquivo pessoal) |
Suzana C.Guimarães
Estou do tamanho da minha leveza. Ou seria o peso da minha leveza? Mas é leveza, não é peso. Então é tamanho, dimensão. Densidade? O dicionário fala que leveza é "qualidade de leve". E, leve é "de pouco peso ou pouca densidade; pouco espesso ou denso" e outras coisas mais, mas dicionário, eu amo, desde a adolescência, mas nós sabemos, ele é apenas o pai dos burros. Às vezes, ele não ajuda.
Quando eu analisava as letras dos amigos, eles odiavam quando eu pegava meus livros para me ajudar. Eles queriam a análise solta, leve... E agora me vejo assim, querendo dizer o tamanho da minha leveza, explicar o som que vem de dentro da onda...
Hoje, pela manhã, passei perfume, eau, a palavra parece mais fluida, leve, e eu era o jato dele que ficou no banheiro e além de mim, não sei no que mais tocou.
Hoje, pela manhã, ao sair do carro, meu vestido ventou e eu ventei junto. Quase me dexei levar na roda da saia que se abriu e eu por instinto apenas bati a mão, mas eu nem via. Gosto de vestidos e saias quase longos, quase mantos, quase panos... só para sentir o prazer do ruflar... Aquele ruflo parece o perfume que me envolve.
Hoje, ao passar pela orla marítima, poeira fina entrou em meus olhos, tão levemente, só o suficiente para eu arder e molhar um pouco os olhos e pensar em ventos distantes.
Mal piso o solo, mal paro no colo.
Tenho a leveza da moedinha que aquele mal-encarado, daquela esquina onde passo, que me olha e a joga pro alto e a vê caindo... sou a caída dela. Sou o olhar que ele tem medo de me dar.
Sou o primeiro passo da menina que vai ser bailarina. Sou o primeiro passinho, o erguer dos pezinhos, o bailar pro alto dos bracinhos. Sou a leveza deles, neve dourada.
Ontem, eu aspirei o pó da casa, foi tudo para o vácuo, vacuum (a Língua Inglesa me surpreendendo, me seduzindo com a paciência dos amantes profissionais), mas agarrados ficaram fios de ouro, tão finos, tão finos, que só se pode ver quando amontoados. Era eu! E eles, eu, voam pela casa, quase que despercebidos.
Anteontem, um homem com longas costeletas brancas passou por mim em meu vestido agarrado ao corpo que suava neste deserto impiedoso. Ele soltou uma longa baforada pro lado, seu fumo cheirava bom, pensei em chocolate derretido e as fumaças soltaram o algodão do meu corpo. Eu, a fumaça de chocolate, eu, o desprender do vestido do corpo suado.
Ontem, eu cozinhei macarrão. Ao lavar a massa, eu escorri, eu era o fio que escapou e se foi com a água, tão lépido!
Ando por aí, ando por aqui, ando pela casa, pela praia, pelas ruas e mal sinto o espaço que vou ocupando na medida do meu passo. Pareço nada ocupar, pareço a leveza da menina loira que pula no colo da mãe, num salto, eu sou tudo aquilo que circula o pulo. Mais leve que a unha do passarinho pendurado no fio ou do esquilo que me fita do fio pensando ser eu uma aparição.
Voo leve do meu chapéu, tão grande chapéu sem peso, que escapou de mim, na calçada da praia, eu sou o momento exato bem pouco antes do voo e da leveza das mãos do homem que roubou uma foto. Sou a lente da máquina que alongou-se e tão breve me captou na perda.
Sou o pisar leve das gueixas. Sou o beijo que se joga daquelas janelas pequenas, logo após o adeus.
Recosto-me em maciez, inspiro e expiro a mim mesma, não acreditando que meus ossos, minha carne, toda a minha pele, todo o peso dos meus pensamentos, toda a carga das minhas sensações, todo o meu passado e meu presente que estou a desembrulhar possam ter virado nota musical, uma só, que eu ouço desde criança, desde a casa da minha avó e vem aqui me encantar.
Leveza...é tão bom se sentir assim não é Suzana?
ResponderExcluirO aspirar o pó de tudo, jogar as "Sujeiras" fora, e aspirar coisas novas.
Eu ando fazendo isso todos os dias na minha vida.
Eu me subtraio, me somo, me multiplico, até encontrar o meu centro, o meu ponto.
E me sinto leve, leve...
Minha querida, deixei email pra ti com palavras do poeta maior, Vinicius.
Mas alguma coisa repito aqui:
Feliz aniversário Suzana.
Feliz "RENASCIMENTO", feliz vida.
Receba ai um abraço meu, com as melhores vibrações possiveis.
Que a leveza fique instalada por todos os dias.
Beijo!
Suzana/Lily, bom que voltastes, morria de saudades suas e de seus textos...mas vc esteve presente e eu nem sabia: no perfume da moça da esquina, no vestido num varal, no pó que brilhou ao sol na limpeza de ontem, na massa do jantar e os pratos ainda brilham na pia, no cheiro de chocolate e tabaco da casa vizinha, nas moedas que dei ao mendigo hj de manhã...era vc, minha amiga, mandando sinais, como as canções que ouço agora...
ResponderExcluirBeijos, carinhos, paz e nem sei que horas são, talvez devesse saber, assim marcaria na folhinha, que hj, tal horas, Suzana/lily voltou...
Voltando aqui! Li num dos seus comentários em algum dos 'amigos blogueiros em comum', que foi seu aniversário, não sabia, qdo foi? Meus parabéns msm pós-niver, apesar de não gostar muito de aniversários, nem os meus e nem os dos outros, uma vez um amigo escreveu: pq parabéns? por termos nascido? por termos sobrevivido?, minha perplexidade caminha na mesma direção...
ResponderExcluirda tua mania de grandeza!
ResponderExcluirlinda, linda, linda...
Rafa
"...não acreditando que meus ossos, minha carne, toda a minha pele, todo o peso dos meus pensamentos, toda a carga das minhas sensações, todo o meu passado e meu presente que estou a desembrulhar possam ter virado nota musical, uma só..."
ResponderExcluirnuma nota só encontrar tanta intensidade... bem, e a leveza é um privilégio de almas que guardam bons sentimentos, que não esperam muito mas apenas o que lhe é de direito, o que vem às mãos com o vento...
ah obrigada pelo comentário, sim em meio à nossa surdez é possível ouvir a voz de Deus, só Ele pode gritar tao alto a ponto de nos acordar
Um abraço no coração
E bom se sentir uno mesmo ser aquele que uno mesmo se sente desde que amanhece ate anoitecer con as vondades q a vida nos ofrece sempre ao ser uno mesmo....
ResponderExcluirSaludos
Linda Semana
Abracos
E na leveza das suas palavras flutuei, ventei com vc...
ResponderExcluirLindo demais!^^
Beijos Su-su
Um texto que nos faz flutuar. Nem a leveza te acompanhou, pois ficou pesada ao te ver passar acima dela.
ResponderExcluirBeijo.
Que lindo! Eu ventei junto!!!!
ResponderExcluirAgradeço as palavras que me ofertou - lá no meu blog - deliciei-me com elas.
Bom te encontrar!
bjus
Ah! Quanta poesia a flutuar por aqui... Quanta beleza e leveza nas palavras que saem de ti, feito plumas.
ResponderExcluirBeijooO*
Um beijo...
ResponderExcluirTELEFONE
Toca o telefone...
Toca sem parar
Deixo-o tocar
Mas depois...
Vou...
E quando lhe pego
Nunca mais toca...
Alguém estava...
Mas não queria estar...
Do outro lado de lá
Ouvi suspirar...
E fiquei a pensar...
Porque será?
Que se passará?
E continuo à espera...
Que ele volte a tocar!...
LILI LARANJO
É simplesmente maravilhoso ler-te!
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