Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



terça-feira, 6 de julho de 2010

GUARDA-ME


               

 Guarda-me!

 Guarda-me naquele livro que gostaste

 Entre flores debulhadas

 Guarda-me!

 Em segredo, não faças alarde

 Não me agradam os pápeis barulhentos

 Guarda-me,

 Nos segundos que antecedem farol verde,

 No bater da uma hora quando tudo já é noite mudez,

 Na lágrima que deixas cair à toa,

 Antes que possas prender.

 Guarda-me no intervalo mínimo dos afazeres

 Guarda-me naquele cheiro que nunca sabes que te lembra

 Guarda-me!

 Naquela tarde inútil,

 Em que paras para beber um café

 olhas vazio à tua frente.

 Guarda-me na cadeira vazia à frente.

 Guarda-me sem alarde,

 Não suporto alvoroço.

 Guarda-me no teu olhar,

 Naquele almoço de negócios,

 Quando olhas para fora das janelas

 buscas qualquer coisa longe...

 Guarda-me naquele sonho no qual imploras que não despertes

 Guarda-me feito última pétala do bem-me-quer

 Guarda-me quando vês avião decolar

 Guarda-me dentro daquele barulho

 Que avisa

 Que machuca

 Que diz, tão cedo!

 Guarda-me em qualquer um,

 Quando última vez olhares.

 Guarda-me naquela lembrança antiga

 Guarda-me dentro do riso que escapa quando dela te lembras.

 Guarda-me!

 Não quero ser tatuagem.

 Não quero ser bagagem.

 Não quero ser imagem.

 Guarda-me,

 Não sou miragem,

 Sou memória! 



Por Suzana Guimarães.


Revisão: Antonio Cláudio Zamagna.