domingo, 11 de julho de 2010
NA CASA DA ESQUINA
Suzana Guimarães
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a doença chegou.
Poderosa, reinou absoluta por mil dias, ou mais... eu não sei.
Entrei na casa da esquina só pra ver as cores antigas das paredes...
Não vi o mal, não vi as lágrimas, não vi dor.
Cheguei numa tarde abafada para falar de futuro
Dei de cara com o passado fechado em luto.
Sem saber, pedi licença e entrei
Porque cheirava estranho
Porque as paredes - tão excessivas em cores - ora se abriam, ora apertavam.
Ar pesado.
Meus passos pesados,
Passos leves se aproximaram...
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a morte chegou.
Eu nada vi, mas sei que bichinhos que comem na surdina, escondidos da luz
em absoluto silêncio, comiam, bem devagarinho, comiam, comiam...
Todos sabiam e não mais podiam fazer,
Apenas se afastaram um pouco e fizeram lentos os movimentos.
Trenzinhos a se arrastar... naquele deserto empoeirado,
onde o pó chegou para levar o corpo.
E, ele, dolorido, se foi, mas os passos leves não acompanharam.
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a vida parou e isso já faz mil dias.
A árvore do viço faz sombra para outros bichinhos que correm na surdina,
de cara pra luz em frenesi, e que nem sei se comem...
Mexem-se, remexem-se
e plantas retorcidas, arbustos distorcidos, folhas resistentes lutam.
A árvore do triste, da outra quina, faz noite eterna sufocada para os vivos que ficaram.
Eles pouco comem, pouco se vestem, pouco se despem.
Eu muito vi, mas eu não queria... eu não queria...
Os passos leves muito próximos,
Olhos nas paredes coloridas,
A boneca na cadeira, sorrindo para mim, falou de desamparo.
Na casa da esquina, não se pode mais respirar, lá é tempo de passos curtos, bem curtinhos,
mãos que nada tocam, ar que não ventila, flores secas no pó que cresce.
Passos leves está lá, esquecida.
[na ânsia de esquecer, esqueceram-se de esquecê-la]
Eu vi, quando saí.
Espreitava-me pelo vidro da janela,
da casa da esquina.
Sonhando em alcançar a saída.
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a doença chegou.
Poderosa, reinou absoluta por mil dias, ou mais... eu não sei.
Entrei na casa da esquina só pra ver as cores antigas das paredes...
Não vi o mal, não vi as lágrimas, não vi dor.
Cheguei numa tarde abafada para falar de futuro
Dei de cara com o passado fechado em luto.
Sem saber, pedi licença e entrei
Porque cheirava estranho
Porque as paredes - tão excessivas em cores - ora se abriam, ora apertavam.
Ar pesado.
Meus passos pesados,
Passos leves se aproximaram...
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a morte chegou.
Eu nada vi, mas sei que bichinhos que comem na surdina, escondidos da luz
em absoluto silêncio, comiam, bem devagarinho, comiam, comiam...
Todos sabiam e não mais podiam fazer,
Apenas se afastaram um pouco e fizeram lentos os movimentos.
Trenzinhos a se arrastar... naquele deserto empoeirado,
onde o pó chegou para levar o corpo.
E, ele, dolorido, se foi, mas os passos leves não acompanharam.
Na casa da esquina, duas árvores, uma em cada quina, um dia a vida parou e isso já faz mil dias.
A árvore do viço faz sombra para outros bichinhos que correm na surdina,
de cara pra luz em frenesi, e que nem sei se comem...
Mexem-se, remexem-se
e plantas retorcidas, arbustos distorcidos, folhas resistentes lutam.
A árvore do triste, da outra quina, faz noite eterna sufocada para os vivos que ficaram.
Eles pouco comem, pouco se vestem, pouco se despem.
Eu muito vi, mas eu não queria... eu não queria...
Os passos leves muito próximos,
Olhos nas paredes coloridas,
A boneca na cadeira, sorrindo para mim, falou de desamparo.
Na casa da esquina, não se pode mais respirar, lá é tempo de passos curtos, bem curtinhos,
mãos que nada tocam, ar que não ventila, flores secas no pó que cresce.
Passos leves está lá, esquecida.
[na ânsia de esquecer, esqueceram-se de esquecê-la]
Eu vi, quando saí.
Espreitava-me pelo vidro da janela,
da casa da esquina.
Sonhando em alcançar a saída.
10 comentários:
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Entrei nessa casa da esquina e deparei bem devagarinho com tudo... com suas louças, seus cheiros,suas cores, seus sons...Essa casa da esquina me lembrou uma casa de um filme que na época vi e revi várias vezes: 'A casa dos Espiritos'...
ResponderExcluirSuzana, como vc está escrevendo bem! Bj! Uma boa semana!
Voltei... pra dizer pra vc que não fumo, é ficção, mas a insônia é real...
ResponderExcluirBj*
Guardarei seu segredo, a 7 chaves, no lado esquerdo do peito...
ResponderExcluirAdoro Isabel Allande, já li sim, 'Retrato em Sépia' e 'Inês da minha alma', e, o próprio 'Casa dos Espíritos'...
Uma boa semana!
el poder entender aquelo que nao teim explicacao.. e sempre dificil ... y aquelo que nao teim explicacao sempre da medo y da vontade de fugir de aquela situaciioon.... mais sempre e bom saber afrontar as situacoes como elas sao sim medos ni temores....
ResponderExcluirAgora seu escrito teim aquele toque personal seu que sempre chama a ser leido y entendido a fundo.... y iso e muito bom.. y e algo que felicito en vc...
Parabems por seu escrito...
bom Comeco de semana
abracos
beijo
Adorei!!! Concordo com o Franck: você está escrevendo muito bem... Esse é o início da carreira de uma grande escritora... Parabéns! Beijos
ResponderExcluirEstive lá, reparei nas quinas das esquinas, no semblante de cada cômodo, todos incômodos.
ResponderExcluirSaí de lá, sem saber para onde ir, mas com a certeza de que não voltaria àquela casa da esquina, nem como inquilino.
Dolente, o texto faz a tristeza desrespeitar espaço-tempo e impregnar tudo em volta.
ResponderExcluirBeijooO
Se cada canto inanimado que nos envolve pudesse falar... Demais o seu texto!
ResponderExcluirBeijos.
Entrei na casa da esquina que cheirava saudade, aquela casa de paredes claras, de quarto de menina de cachorro na varanda, de saudade estampada...
ResponderExcluirLindo demais, Su-su!!
Beijos
Suzana, se cada canto da minha casa (Alma) pudesse falar, de repente seriam coisas tão tristes...Por isso não entro nela.
ResponderExcluirNem abro as janelas.
- Quanto a musica da Fafá, que me venha esse homem, penso como você: Que não me machuque em nada.
Por isso falo tanto do amor, mas não vivo.
Melhor falar, do que viver um (pensamento meu).
Sempre machuca, por mais "que".
Então, não me permito vivê-lo.
Apenas senti-lo.
Um abraço grande!